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terça-feira, 6 de novembro de 2007

LÚPUS: O PROGNÓSTICO É HOJE MUITO FAVORÁVEL

Prof. Doutor Jaime C. Branco

O diagnóstico do lúpus é clínico e laboratorial. Pode dizer-se que um doente sofre de LES se apresentar, pelo menos, quatro das onze alterações que constituem os critérios da classificação que o Colégio Americano de Reumatologia definiu, em 1982, para esta doença e que são utilizados internacionalmente.


Entre estes critérios existem manifestações clínicas (p. ex. eritema malar, lesões cutâneas discoides, fotosensibilidade, úlceras orais, artrite, sintomas neurológicos e inflamação da pleura e/ou do pericárdio) que podem necessitar de exames de imagem para ser melhor identificados e definidos, e evidências laboratoriais (p. ex. de doença dos rins e alterações do sangue ou do sistema imunológico)
Estes critérios apresentam uma altíssima (i.e. 95%) sensibilidade e especificidade mas, por vários motivos, como acontece com quaisquer outros critérios, não são absolutamente precisos.

De facto, apesar desta excelente qualidade diagnóstica, existem doentes com quatro ou mais critérios, que não têm Lúpus mas sim outra doença e também há doentes com menos quatro critérios que sofrem de LES.
É por este e outros motivos que a experiência do médico é tanto mais fundamental, quanto mais complexa for a doença e mais complicada por a situação clínica do doente.

Tratamento da doença
O tratamento do lúpus depende do quadro clínico individual apresentado por cada doente. Os anti-inflamatórios estão indicados para os doentes que têm artrite e/ou serosite (i. e. pericardite e/ou derrame pleural). Estas manifestações e as lesões da pele são, muitas vezes, controladas com medicamentos habitualmente utilizados para tratar o paludismo (p. ex. hidroxicloroquina).
A maioria das manifestações do LES cede com a utilização de corticóides que podem ser utilizados em doses baixas, na generalidade dos casos, ou em altas doses, quando existe p. ex. doença renal grave, atingimento do sistema nervoso central, grande diminuição das plaquetas, anemia hemolítica e inflamação pulmonar. Em todas as circunstâncias, deve tentar-se reduzir progressivamente (i.e. desmamar) as altas doses de corticóides diários, o mais rápido possível. Para isso pode ser necessário utilizar corticóides em "bolus" (i.e. altas doses intravenosas, poucas vezes, espaçadas por intervalos de tempo cada vez maiores), ou juntar fármacos imunossupressores (p. ex. azatoprina, ciclofosfamida).
Especial atenção terapêutica devem merecer a nefrite lúpica, a afecção cerebral do lúpus, a síndrome do anticorpo antifosfolipido (que também pode ocorrer isoladamente e que provoca tromboses venosas e arteriais, abortos expontâneos de repetição, redução das plaquetas e anemia hemolítica), e hipertensão arterial entre outras complicações.
Devem ainda ser objecto de prevenção e rastreio os potenciais efeitos adversos da terapêutica utilizada no tratamento do LES (p. ex. osteoporose, diabetes, hipertensão, anemia, redução dos glóbulos brancos, infecção).
A gravidez não está contra indicada nos doentes com lúpus, mas exige cuidados especiais e deve preferencialmente acontecer quando a doença se apresenta bem controlada, há bastante tempo, com doses mínimas de medicamentos.
Ainda assim, as doentes devem ser cuidadosamente seguidos, durante toda a gravidez, quer pelo obstetra quer pelo reumatologista, que para isso têm de manter estreita e eficiente comunicação.
Ao contrário do que acontecia há uma ou duas décadas atrás, o prognóstico do lúpus é hoje muito favorável. São muito poucos os doentes que vêm a falecer devido à doença ou às suas complicações.
Esta grande melhoria na evolução dos doentes com LES deve-se a muitos factores, entre os quais sobressaem o diagnóstico mais precoce da doença e a utilização de fármacos cada vez mais eficazes.
Prof. Doutor Jaime C. Branco
Presidente da Liga Portuguesa contra as Doenças Reumáticas