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quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

APENAS TRÊS POR CENTO DOS PORTUGUESES SABEM O QUE É DPOC

DPOC é um nome difícil. Apenas três por cento dos portugueses sabem o que significa. Estamos a falar da doença pulmonar obstrutiva crónica que afecta já 500 mil pessoas no nosso País. Falta de ar (dispnéia), cansaço fora do normal, dificuldade em realizar actividades do dia-a-dia, como por exemplo, subir escadas, são alguns dos sintomas que começam a alertar o doente para a patologia.
A DPOC é uma doença crónica, não tem cura, mas tem tratamento e é possível preveni-la. “É uma doença silenciosa. A pessoa pode perder metade da sua capacidade respiratória sem dar por isso”, afirma a Professora Cristina Barbara, pneumologista e coordenadora do Projecto Gold (Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease) em Portugal. Em entrevista ao Jornal do Centro de Saúde, dá algumas recomendações para que saiba como evitar o aparecimento da doença.

O que é a DPOC e como se desenvolve?
DPOC é um nome difícil mas é necessário vulgarizá-lo e associá-lo ao tabagismo. Como o próprio nome diz, é uma doença crónica, ou seja, não tem cura, mas tem tratamento e é possível preveni-la. Há uma obstrução, uma limitação, ao nível do fluxo de entrada e de saída de ar das vias áreas. Nos doentes em fases avançadas, a respiração acaba por se tornar dificultada. Nestas fases, o doente apresenta este sintoma intitulado de dispnéia (falta de ar) que, muitas vezes, é de aparecimento tardio. A DPOC é frequentemente uma doença silenciosa. A pessoa pode perder metade da sua capacidade respiratória sem dar por isso.

O que contribui para o aparecimento da doença?
O principal factor de risco para contrair esta doença é o tabagismo. Cerca de 80 a 90 por cento dos doentes com DPOC são fumadores. Estudos recentes apontam para que, dentro do grupo de fumadores, 50 por cento possam vir a desenvolver DPOC, ao longo da vida.

Se quisermos prevenir o aparecimento da doença, aconselhamos logo a que as pessoas deixem de fumar. É a medida mais eficaz para evitar que a doença apareça no futuro. Aconselhamos a que os não fumadores continuem a não sê-lo. Mesmo que se deixe de fumar aos 60 anos, há sempre benefícios e ganham-se cerca de três anos de vida.

Qual o tratamento recomendado?
Para a DPOC, há tratamento preventivo, tratamento farmacológico e não farmacológico. O último assenta sobretudo na reabilitação que se baseia na prática vigiada de exercício físico. Este não pode ser efectuado num ginásio vulgar. O exercício físico praticado por estes doentes tem de ser acompanhado e monitorizado pelos especialistas e é adaptado às limitações do doente (respiratórias ou não respiratórias).

Temos terapêuticas que melhoram bastante a sua qualidade de vida e a capacidade de exercício. Estes indivíduos, a dada altura, ficam limitados ao nível de actividades básicas do dia-a-dia, como por exemplo, ir passear o cão, fazer a barba, pentear o cabelo, entre outros. Podem também entrar em falência do pulmão. Isto significa que entram em insuficiência respiratória e que ficam dependentes de oxigénio durante 24 horas por dia.

No campo da terapêutica farmacológica, os doentes com DPOC, ainda se encontram de alguma forma esquecidos pelas autoridades de saúde, pois de facto, não se percebe porque é que não há uma isenção das taxas moderadoras para os mesmos.

Em que consiste o Projecto Gold?
Este projecto é promovido, no nosso País, pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia e foi implementado a partir do ano de 2000, em todo o mundo. Visa atingir as autoridades de saúde (que tem de retirar as barreiras à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento), o pessoal de saúde (médicos e outros profissionais que têm de estar aptos a tratar esta doença com a melhor performance possível) e o próprio público em geral. Um estudo realizado em Portugal pelo projecto Gold, mediante entrevistas à população, constatou que a denominação DPOC é conhecida por apenas três por cento da população.

Como é que se pode fazer face à DPOC, em Portugal?
Em primeiro lugar, é necessário aumentar a acessibilidade das pessoas às consultas. Sendo a doença silenciosa, é necessário que a pessoa saiba se pertence ou não a um grupo de risco para efectuar o exame que leva ao diagnóstico.

Este baseia-se num exame complementar intitulado espirometria que mede a velocidade de entrada e saída de ar nos pulmões. Todas as pessoas com mais de 40 anos, fumadoras ou ex-fumadoras, pertencem ao grupo de risco e devem efectuar o exame referido. A esperiometria tem de ser vulgarizada no Centro de Saúde, tal como é a medição de tensão. Neste momento, são raros os Centros de Saúde que têm um espirómetro.

O projecto Gold já conseguiu atingir as autoridades de saúde porque, a Direcção Geral de Saúde já elaborou um Programa Nacional de Prevenção e Controlo para a DPOC, que tem como estratégia prioritária a instalação, no nosso País, de uma Rede de Espirometria. Ou seja, queremos que seja possível que este exame esteja muito acessível ao médico de família.