As diferenças de saúde entre os sexos feminino e masculino não se devem apenas às evidentes dissemelhanças biológicas. Já se sabe que os homens morrem, em média, mais cedo. O que talvez se desconheça é que isso se deve, em parte, à vontade de demonstrar a sua "masculinidade", expondo-se voluntariamente situações que colocam em risco não só a saúde como a longevidade.É nas mortes por causas violentas - Acidentes de viação + e lesões autoprovocadas intencionalmente (Suicídio + s) - que a sobremortalidade masculina é mais acentuada, de acordo com o relatório "Saúde, sexo e género - factos, representações e desafios", publicado pela Direcção-Geral da Saúde no seu site (www.dgs.pt). O documento analisa as diferenças verificadas na saúde das mulheres e homens, tanto as que decorrem do dualismo biológico, como as que derivam de factores sociais e culturais.
No caso dos jovens entre os 15 e os 24 anos que morreram devido a acidentes de transporte, as disparidades são brutais os óbitos masculinos são 80% superiores aos registados entre as raparigas. A mortalidade por causas violentas é, segundo os autores deste estudo, o território em que "se expressa melhor o impacte do género na saúde".
No entanto, as diferenças espelham-se também nas mortes por causas naturais. As Doenças cardiovasculares + afectam distintamente os dois sexos, sendo responsáveis por 55% dos óbitos entre as mulheres e 43% entre os homens. Pelo contrário, os tumores atingem mais o sexo masculino do que o feminino (21% e 17% das mortes, respectivamente), de acordo com as estatísticas da Organização Mundial de Saúde + para a população europeia.
Estas diferenças ditam disparidades na esperança de vida, que é inferior nos homens. Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística revelam que uma mulher tem, à nascença, a esperança de viver até aos 81,4 anos, enquanto a do homem não ultrapassa os 74,9 anos.
Esta tendência, transversal a todas as regiões do globo à excepção de alguns países asiáticos, não significa, porém, que as mulheres vivam com mais saúde do que os homens, salienta o relatório da DGS.
São as mulheres quem mais se queixa de dor. Este facto pode resultar de elas apresentarem um limiar de sensibilidade e tolerância à dor mais baixo do que os eles, mas, também, porque são "mais inadequadamente tratadas do que os homens". Além disso, os efeitos de alguns Analgésicos + variam consoante o sexo e os efeitos adversos são mais frequentes nas mulheres.
Por outro lado, os problemas específicos das mulheres - nomeadamente os relativos à reprodução, menopausa e outros problemas que afectam diferentemente o sexo feminino, como as doenças do aparelho circulatório, sida, perturbações nutricionais, Osteoporose + , cancro da mama, abuso sexual, Violência doméstica + - não são objecto de reconhecimento explícito nos programas de acção.
As doenças cardiovasculares, que registam um aumento da incidência depois da menopausa, são exemplo da diferença de tratamento entre sexos.
Estas patologias manifestam-se, nas mulheres, por sintomas distintos dos homens , o que leva a que estejam subdiagnosticadas no sexo feminino. Esta situação explica-se, em parte, devido à "tendência para usar o homem como standard", que é habitual nos profissionais de saúde. "Tal viés repercute-se também no acesso aos cuidados, no emprego dos recursos de diagnóstico e nos processos terapêuticos", lê-se no documento.
Fonte: JN