
Ultrapassado o alarmismo inicial, que motivou alguma "discriminação" local, a situação tende a estabilizar. Uma IPSS de Moure deverá começar a fazer o acompanhamento do paciente, conferindo a dignidade possível a uma morte anunciada. Mas ergue-se outro problema, porque o material de segurança terá de ser comprado pela família, de parcos recursos.
"Um frasco de desinfectante custa 11 euros; as luvas sete euros; as máscaras sete e as batas oito euros.
Só o meu sogro tem reforma. Como é possível sustentar uma situação destas", questiona Lúcia Sousa, que tem assegurado o acompanhamento do doente, mediante as indicações que lhe foram transmitidas no IPO. Porém, a nora de José Cunha Silva revela alguma revolta, na forma como todo o processo decorreu. "Informei no IPO que não havia condições em casa para acolher este doente. Se ele apanhou a bactéria lá deveria ser lá feito o tratamento".
Só que este tipo de Bactérias + "revela índices de agressividade mais elevados quando em ambiente hospitalar", como referiu, ao JN, José Manuel Araújo, da delegação da Saúde de Vila Verde, pelo que as práticas mundiais apontam para transferir o doente para o domicílio. "Aí, as pessoas que lidam directamente com o doente têm de cumprir os cuidados mínimos de higiene", sustenta o médico.Só que a notícia correu célere, na pequena aldeia vilaverdense, aliando a rapidez de circulação a uma dose elevada de imprecisão. Alguns moradores começaram a apontar o caso como se uma epidemia se aproximasse e o alarme soou.
"O meu sogro sempre trabalhou como jornaleiro e agora ninguém se aproxima, porque têm receio. Inclusivamente, eu tenho um salão de cabeleireiro e já há quem tenha deixado de ir lá", revela Lúcia. Mais uma vez o médico da delegação de Saúde garante que "não existe o perigo de contágio. A possibilidade de transmissão, nos moldes em que está a ser acompanhado o doente, é nula".
A questão que se coloca neste caso concreto prende-se com um caso de condições de habitabilidade precários. José Cunha Silva teve dez filhos, alguns dos quais habitam na casa paterna. Para evitar o contacto, até porque ali residem crianças, o doente foi instalado num anexo, sem condições e sem casa de banho.
José Silva foi alvo de um procedimento cirúrgico ao nível do pescoço (traqueostomia) que estabelece um orifício artificial na traqueia, a 6 de Junho. A 16 de Agosto começou a ser tratado no IPO do Porto, onde terá contraído a bactéria. A 16 de Outubro regressou a Vila Verde e a 29 de Outubro foi a uma consulta no Hospital de S. Marcos. A família sente-se revoltada, por ter sentido, em todos estes locais por onde passou, o que parecia ser a atitude de "despachar o doente para casa". Porém, conforme foi possível apurar junto das diferentes direcções clínicas, tratou-se antes de "acautelar a saúde de todos os outros doentes, porque em ambiente hospitalar havia uma perigosidade maior de transmissibilidade".
José Manuel Araújo, da delegação de Saúde de Vila Verde, alude, inclusive, ao facto de 25% da população ser possuidora dessa bactéria que pode alojar-se em material hospitalar como equipamentos de ventilação mecânica, cateteres e toda uma parafrenália de instrumentos médicos.
Superbactéria
O principal problema que apresenta esta bactéria é a sua multiresistência. Existe uma relação directa entre o consumo de certos agentes antibacterianos em determinadas áreas do hospital (como unidades de cuidados intensivos) e o incremento da resistência a certos Antibióticos + nas cepas de Acinetobacter que se encontram nas referidas áreas.Acinetobacter baumanii é conhecida na literatura internacional como uma superbactéria, por ser resistente aos antibióticos. Não é considerada muito agressiva, mas oportunista. Pacientes entubados ou com ventilação mecânica são os mais susceptíveis à bactéria. Há duas situações possíveis nesses casos a infecção, que pode levar à morte, e a colonização, quando a bactéria apenas está presente, por exemplo, em secreções do paciente.
Fonte: Jornal de Notícias