Oito em cada dez mulheres queriam saber como se faz um Aborto + até às dez semanas e as dificuldades económicas foram as razões mais invocadas para não levar a gravidez por diante. No primeiro ano de funcionamento, a linha "Opções" - que presta aconselhamento sobre gravidez não desejada e contracepção - registou sete centenas de pedidos de informação e encaminhamento para interromper voluntariamente a gravidez.
Foram quase sempre elas a ligar, mas em 10% das casos que o telefone tocou era uma voz masculina a pedir informações, às vezes um pai que queria ajudar a filha. Quase sempre é a própria interessada a ligar, mas, em algumas situações, é um familiar ou amigo a tomar a iniciativa de contactar este serviço telefónico. Cerca de metade é solteira e a esmagadora maioria é de nacionalidade portuguesa, tem idades entre os 20 e os 35 anos e um ou dois filhos. É este retrato dos utilizadores da linha "Opções" a partir do primeiro balanço da actividade, ontem divulgado.
"A linha pode dar um encaminhamento às mulheres sobre locais onde se devem dirigir para realizar uma Interrupção voluntária da gravidez + (IVG + ), quais os procedimentos para menores e mulheres imigrantes. Podemos ouvir mulheres sem fazer juízos de valores", explicou Elisabete Souto, coordenadora deste serviço da Associação de Planeamento Familiar.
Cerca de 90% das chamadas tinha como objectivo obter informações sobre a IVG e a grande maioria das mulheres já tinha tomado a decisão de fazer aborto.
A situação económica é o motivo mais apresentado para a realização da IVG (21% do total das chamadas). Não querer ter mais filhos, situação profissional, idade e instabilidade conjugal foram outras razões invocadas.
Outro dado relevante para a compreensão do fenómeno do aborto é que apenas 22% dos namorados e 20% dos maridos tinham conhecimento da gravidez. Em quase 70% dos casos, os utilizadores afirmaram ter utilizado contracepção, sendo a pílula o método mais usado (45%), seguindo-se o Preservativo + (39%).
Jorge Branco, coordenador do Programa Nacional de Saúde Reprodutiva, reafirmou a convicção de que os números de IVG vão ficar abaixo das previsões, que apontavam para cerca de 20 mil intervenções por ano. "Infelizmente, continua a praticar-se aborto ilegal", sublinhou, acrescentado que é preciso esclarecer as mulheres que "é mais seguro" utilizarem o Serviço Nacional de Saúde + .
92,3% das mulheres que pretendiam realizar aborto telefonaram para a linha "Opções" antes das dez semanas. O número de adolescentes a utilizar o serviço é reduzido face ao universo (8,7%).
37 chamadas brancasnum total de 700 contactos (média de 60 chamadas por mês). Não há registo de insultos ou brincadeiras, talvez por a linha "Opções" (707200249) ser paga pelo utilizador.
Fonte: JN