Na última década ocorreram progressos notáveis no tratamento citostático da doença avançada. Todos os índices de eficácia da terapêutica duplicaram em relação aos ocorridos na década passada. As taxas de respostas objectivas passaram de 20 para mais de 40%; a sobrevivência média dos doentes portadores de tumores metastizados passou de oito a doze meses para, aproximadamente, dois anos.
Até há doze anos atrás, o tratamento consistia apenas na administração do 5-Fluoracilo associado, ou não, ao ácido folínico. A partir deste momento, o irinotecan ou a oxaliplatina associados ao 5-fluoracilo e ao ácido folínico, possibilitaram um aumento da sobrevivência destes doentes para uma média de 14 – 15 meses.
Neste século, duas novas moléculas vieram a incorporar-se neste arsenal terapêutico: os anticorpos monoclonais cetuximab e bevacizumab.
O cetuximab é um anticorpo monoclonal quimérico contra o receptor do factor de crescimento epidérmico (EGFR). O bevacizumab é um anticorpo monoclonal humanizado que bloqueia o receptor do factor de crescimento do endotelio vascular (VEGF).
No momento actual, as combinações do 5-Fluoracilo/Ácido Folínico com o Irinotecan e com a Oxaliplatina são usadas sequencialmente, com sobrevivência média de 22 meses. O bevacizumab pode ser utilizado em primeira linha. O cetuximab usa-se, habitualmente, associado ao irinotecan em terceira linha. Ainda não é claro qual a extensão de ganho em sobrevivência obtido com estes novos agentes.
Cirurgias como forma de tratamento
A remoção cirúrgica de metástases, nomeadamente hepáticas, conduz a um aumento da sobrevivência e pode ser potencialmente curativa, desde que tecnicamente possível e completa.
Numa fase inicial, esta cirurgia limitava-se a ressecar um número limitado de lesões. Actualmente, equipas particularmente treinadas conseguem ressecar múltiplas lesões, em uma ou mais intervenções, combinadas ou não com outras armas capazes de destruição de pequenas lesões, como a ablação por radiofrequência. A crescente actividade da quimioterapia veio possibilitar que metástases potencialmente irressecáveis deixassem de o ser.
Nos tumores do cólon e do recto não metastizados a cirurgia é o tratamento de eleição, podendo nos estádios iniciais ser o suficiente para obter a cura. Contudo, muitas vezes os tumores têm metastização ganglionar regional e, neste contexto, a quimioterapia no cancro do cólon, e a quimio e radioterapia no cancro do recto têm um papel importante a desempenhar.
Após remoção do tumor do cólon com metastização ganglionar, a quimioterapia com a associação FOLFOX reduz a taxa de recorrência da doença de 50 para 28%.
A cirurgia desempenha um papel fulcral no tratamento do tumor do recto não metastizado. A quimioterapia (5-Fluoracilo com ou sem ácido folínico) associada à radioterapia aumenta a sobrevivência global e livre de doença e reduz a taxa de recorrência local do tumor. Podem ser administradas antes (neo-adjuvante) ou após a cirurgia (adjuvante) com eficácia equivalente. O tratamento pré-operatório traz ainda a possibilidade de poder poupar o doente a uma amputação abdomino-perineal, uma mutilação por vezes necessária, mas sempre incómoda para o doente.
Dr. João Ribeiro
Especialista de Medicina Interna e Oncologia Médica
Assistente Hospitalar Graduado do IPO de Coimbra, Serviço de Oncologia Médica
Fonte: Jornal do Centro de Saúde