Dr. António Segorbe Luís
O tabagismo é o principal factor de risco para o cancro do pulmão e para o desenvolvimento de Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC).
A s poeiras, fumos e químicos do ambiente profissional, quando as exposições são suficientemente intensas e prolongadas, a poluição do ar do interior por combustíveis orgânicos, utilizados para cozinhar e para aquecimento de habitações inadequadamente ventiladas, e a poluição do ar exterior, que aumenta a carga total de partículas inaladas, podem contribuir para a DPOC, mas, sobretudo, potenciam a doença na população fumadora e agravam-na quando já presente.
A realidade do nosso País referente ao tabagismo sugere que a DPOC deva ser considerada como um problema de saúde pública com tendência de agravamento no futuro, se considerarmos a estimativa, consensual e universalmente aceite, de que pelo menos 20% dos fumadores virão a desenvolver DPOC. A DPOC tem uma prevalência em Portugal de 5,3 %, taxa conhecida pela 1ª vez, em 2003, num estudo efectuado pela SPP (de 1384 indivíduos rastreados, com a idade média de 49 anos, sendo 25% fumadores e 22% ex-fumadores, 5,3 % apresentavam DPOC. Recentemente, no contexto de uma acção de rastreio à Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) foram examinados 2400 trabalhadores de empresas portuguesas, tendo sido detectada uma prevalência de DPOC de 6,3%.
Habitualmente a doença não é reconhecida e diagnosticada até que seja clinicamente aparente e moderadamente avançada. O grande problema é que a limitação respiratória na DPOC tende a ser progressiva e, em fase evoluída, torna-se incapacitante.
O grande impacte da doença na qualidade de vida dos doentes - com repercussão no meio familiar e consequências negativas a nível profissional e social -, leva a que seja o peso dos "dias perdidos", de vivência com a doença e por morte prematura, a parte mais significativa do custo global da DPOC.
A referência a tosse e produção de expectoração frequentes e a dificuldade respiratória num esforço banal por um fumador ou ex-fumador com mais de 40 anos, deve fazer pensar em DPOC.
Todavia há doentes assintomáticos; mas, na maioria, a tosse e a expectoração diárias precedem, em anos, a limitação ventilatória. Há que pensar, ainda, nos casos em que a única queixa é a dificuldade respiratória no esforço.
A DPOC, em Portugal, está claramente subdiagnosticada! As razões para assim acontecer são múltiplas: o fumador subvaloriza os sintomas e vive com eles sem comunicar ao médico; os profissionais e autoridades de saúde só na transição do século é que despertaram colectivamente para o grande problema que é a DPOC; depois, há insuficiência de meios de diagnóstico nos cuidados primários, isto é, espirometrias.
A espirometria, um exame que mede o volume e a velocidade do ar expirado, é necessária para confirmar o diagnóstico de DPOC e serve para orientar o tratamento, avaliar a resposta terapêutica e monitorizar a evolução.
Uma espirometria normal nega a possibilidade de presença de DPOC clinicamente relevante.
Embora não cure a DPOC, o tratamento farmacológico tem um efeito relevante na funcionalidade e qualidade de vida dos doentes. Todavia, é a cessação tabágica a medida de maior benefício e maior eficácia no controlo da evolução da doença. Aliás, a necessidade de cessação tabágica deverá centrar o acompanhamento do doente com DPOC.
Uma redução da prevalência de tabagismo na população será uma incomensurável mais valia, por drástica redução do número anos de vida perdidos por morte prematura e incapacidade por DPOC.
Ter o prazer de não fumar um cigarro é, sem dúvida, o desejo oculto de muitos fumadores. Mas, só com um esforço colectivo, sistemático e organizado, é que se poderá alterar o cenário do tabagismo e da DPOC em Portugal.
Dr. António Segorbe Luís,
Presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia
Fonte: Saúde em Revista