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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

QUANDO A ATENÇÃO É UM OBSTÁCULO




Cláudia Pinto


Será hiperactividade ou falta de atenção? Já pensou que a criança que convive consigo e está permanentemente agitada e desatenta, pode sofrer de uma perturbação que reúne, em simultâneo, a hiperactividade e a falta de atenção? O Jornal do Centro de Saúde dá-lhe a conhecer a perturbação de hiperactividade com défice de atenção (PHDA), a mais comum e frequente em idade pediátrica.





A PHDA é a perturbação do desenvolvimento e comportamento mais frequente em idade pediátrica. Estima-se que a sua prevalência ronde os 3-5%. É uma doença genética, que tem na sua base, alterações do funcionamento cerebral relacionadas com os neurotransmissores, que são as substâncias químicas que transmitem a informação entre os neurónios. "As mensagens que os neurotransmissores emitem influenciam as emoções, o comportamento, o pensamento e a capacidade de atenção".




É comum ouvirmos falar de hiperactividade mas, segundo a Dra. Luísa Teles, pediatra do desenvolvimento do Hospital da Luz, "é mais correcto falar-se em PHDA". Dentro desta, podemos referir comportamentos distintos, identificados frequentemente. A desatenção é um deles. "Envolve a dificuldade em manter a atenção ou a resposta a tarefas / actividades, em lembrar e seguir as instruções ou resistir à distracção enquanto a criança as realiza", explica-nos Luísa Teles. Assim, é fácil notar que a criança sente enorme dificuldade em manter a atenção num estímulo seleccionado, de modo a executar uma determinada tarefa com um objectivo definido e um tempo pré-determinado.




Podemos ainda referir a hiperactividade e a impulsividade. "Os problemas com o controlo inibitório motor observado em crianças com PHDA envolvem a inibição voluntária ou executiva de respostas irrelevantes. A impulsividade pode estar relacionada com a motivação", fundamenta a pediatra entrevistada pelo Jornal do Centro de Saúde.








Principais sintomas




Os sintomas iniciam-se geralmente em idade pré-escolar, em particular, a hiperactividade e a impulsividade. "A desatenção pode ser detectada só após o início da escolarização e pode persistir até à idade adulta". Os sintomas mais frequentes costumam interferir com o funcionamento da criança no seu desempenho académico e nas relações sociais com a família e amigos.




"A performance da criança com PHDA é pior ao final do dia, em tarefas mais complexas que requerem maiores competências de organização, quando existe pouca estimulação, quando é necessária maior contenção do comportamento, quando as recompensas não são rapidamente acessíveis e na ausência de supervisão de um adulto", fundamenta Luísa Teles.




O problema surge constantemente pois as crianças com esta perturbação "não aceitam limites bem definidos e nem sempre se revêem nos sintomas reportados pelos pais e professores, principais testemunhas dos seus comportamentos".








Principais obstáculos para estas crianças




O dia-a-dia destas crianças é repleto de problemas e obstáculos. Dificilmente adequam a sua actividade motora à tarefa e ao contexto em que se encontram. São crianças que não conseguem adequar a sua actividade motora à tarefa e contexto em que se encontram e não mantêm a atenção em tarefas que requerem esforço mental. "Normalmente, apresentam inconsistência no desempenho escolar, têm dificuldade em desempenhar adequadamente as tarefas académicas, não conseguem organizar muito bem as respostas verbais, orais e escritas, não conseguem resolver os problemas com facilidade; são mais desorganizados no que respeita aos métodos de estudo e não fazem adequadas estimativas do seu tempo", explica Luísa Teles.


Estas características traduzem-se em dificuldades reais na aquisição de competências no "seu curriculum académico" e nem sempre acompanham os colegas da turma, à velocidade esperada. "Denotam-se ainda contrariedades nas relações com os pares porque apresentam frequentemente problemas pragmáticos de linguagem (dificuldade em organizar as ideias enquanto conversam, respeito pelos tempos de conversação, manutenção do tema durante a conversa de acordo com o interesse do outro interlocutor e dificuldades na compreensão da informação oral)". Estas crianças tornam-se assim um verdadeiro desafio para os professores, para os pais, para os amigos e para eles próprios.







Diagnóstico da PHDA




É um diagnóstico complexo e requer "uma avaliação sistematizada e rigorosa, realizada por equipas multidisciplinares compostas por pediatras do desenvolvimento, um pedopsiquiatra, um neuropediatra e psicólogos". O diagnóstico clínico inclui informação acerca da história familiar e médica da criança, um exame físico, entrevistas aos pais e à criança, questionários de comportamento preenchidos pelos pais e professores e observação. A equipa multidisciplinar conta com uma variedade de testes psicológicos para avaliar as aptidões intelectuais da criança e o ajustamento social e emocional da mesma.




Se suspeitar que o(a) seu (sua) filho(a) tem dificuldades de atenção e/ou hiperactividade, deve falar com o pediatra ou o seu médico de família para que seja dado o encaminhamento adequado. A colaboração dos familiares e professores, em conjunto com os médicos e psicólogos, é essencial para que seja efectuado um diagnóstico correcto e seja delineado um plano de tratamento para a criança com PHDA. "O tratamento compreende a terapêutica farmacologia e a intervenção psico-educativa", explica Luísa Teles.








Ajude o seu filho!




Perante um diagnóstico de PHDA, deve mostrar-se disponível para ajudar a criança. Terá de se adaptar às suas necessidades e mostrar ao(à) seu(sua) filho(a) que fará tudo para o(a) ajudar. Pense bem nas recompensas que lhe promete, se considerar que as mesmas não são eficazes na mudança de comportamento da criança.




Mantenha-se calmo, positivo e optimista. Utilize uma linguagem clara e crie algumas regras a que o(a) seu(a) filho(a) se deve adaptar. Escreva uma lista de regras que a criança terá de cumprir e explique-lhe, objectivamente, o que espera dele, mostrando-lhe que fica satisfeito quando ele(ela) adopta o comportamento pretendido.











Fonte: Jornal do Centro de Saúde