Henrique Santos
Depois de números muito alarmantes referente às grávidas portuguesas, os primeiros dados da segunda fase do Estudo do Aporte de Iodo em Portugal dão conta de que as crianças entre os 7 e os 12 anos podem não estar a sofrer de carência deste nutriente.
Os resultados preliminares do 1º Estudo Epidemiológico sobre Aporte de Iodo em Portugal mostram que as crianças entre os 7 e os 12 anos não apresentam carência de iodo, revelou Edward Limbert, coordenador da investigação e membro do Grupo de Estudo da Tiróide da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo.
Os primeiros resultados sobre a região de Lisboa dão conta que a mediana registada de aporte do nutriente, 126 microgramas por litro (μg/L) de urina, está acima dos mínimos recomendados pela Organização Mundial de Saúde: 100 μg/L de urina.
A avaliação do aporte de iodo nas crianças do 1º e 2º ciclo de escolaridade representa a segunda fase deste estudo epidemiológico, cuja primeira etapa, divulgada em 2007, demonstrou que as grávidas portuguesas apresentavam valores muito deficitários.
Na altura, o Grupo de Estudo da Tiróide determinou que 80% das mais de 3000 grávidas, estudadas em 17 maternidades portuguesas, tinham valores de iodo abaixo do desejável e que apenas cerca de 20% por cento não registavam carência de iodo.
Micronutriente essencial ao organismo, o iodo é um elemento chave para que a tiróide produza as suas hormonas, responsáveis pelo funcionamento normal de funções vitais como a frequência cardíaca, a regulação da temperatura, o funcionamento intestinal, a força muscular ou a memória. As hormonas tiroideias são também essenciais para o normal desenvolvimento do sistema nervoso das crianças durante a gestação e nos primeiros anos de vida. O iodo está naturalmente presente no peixe, em frutos e vegetais e também na água, mas em pouca quantidade.
Nas grávidas, a necessidade de iodo é 50% maior e os níveis reduzidos de ingestão do nutriente podem, se acentuados, dar origem ao hipotiroidismo e a um aumento da hormona hipofisária, podendo provocar o desenvolvimento de bócio na mãe e no feto. A carência de iodo é a causa do bócio endémico que constitui ainda grave problema de saúde pública em várias regiões do mundo.
Segundo o Grupo de Estudo da Tiróide, "no nosso país, o bócio endémico deixou de constituir problema. No entanto, trabalhos recentes vieram indicar que a deficiências de iodo, ainda que moderadas e em fases críticas da gravidez, podem ser causa de alterações no desenvolvimento do sistema nervoso das crianças, dando origem a alterações cognitivas com repercussões na aprendizagem escolar". De acordo com Edward Limbert, uma das soluções é "iniciar a suplementação de iodo logo desde o planeamento da gravidez" ou, pelo menos, no início da gestação.
Os resultados finais da segunda fase do 1º Estudo Epidemiológico sobre Aporte de Iodo em Portugal vão ser divulgados até ao final deste ano.
Fonte: Ymed