Dr. Pedro Serra
Actualmente, uma das mais temidas complicações da diabetes é a amputação, sendo a principal causa de internamento de pacientes diabéticos.
Quando se fala de Diabetes, ou Diabetes Mellitus, reportamo-nos a uma doença metabólica sistémica definida como uma incapacidade de metabolização de açúcares e consequente elevada concentração de glicose no sangue. Esta doença metabólica é temida pelas consequências e sequelas que acarreta nomeadamente nos rins, retina, coração e membros inferiores. Tantas vezes se comentam as tão temidas amputações, mas afinal como e por que é que acontecem? E por que é que se diz que o pé diabético é um pé de risco?
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a previsão para o ano 2025 é de mais de 350 milhões de portadores de diabetes, em todo o mundo, 25% dos quais vão ter algum tipo de comprometimento nos pés. O principal factor de risco para este tipo de pé é a neuropatia diabética, que leva a uma perda ou alteração de sensibilidade dos pés, tendo como consequências, dores, deformações, feridas, infecções levando até mesmo à amputação; debilidade e atrofias musculares ou alteração do funcionamento dos órgãos internos. O outro factor é a vasculopatia diabética que pode ser vista nas grandes artérias (arterosclerose), e nas arteríolas e pré-capilares.
O exame clínico das doenças vasculares periféricas baseia-se na procura de sintomas e sinais que podem aparecer no local de uma alteração. Mais de 90% das doenças vasculares periféricas podem ser diagnosticadas clinicamente, desde que o exame seja efectuado de forma sistemática e cuidadosa por um profissional habilitado, nomeadamente pelo seu médico ou Podologista. A presença destas complicações está relacionada com o tempo de duração da diabetes e com o grau de controlo glicémico, sendo por isso de enorme importância manter um bom controlo da glicemia e um estilo de vida activo, não sedentário.
As amputações surgem, então, quando se desenvolvem feridas ou úlceras nos pés e que, na presença de factores de risco vasculares ou neuropáticos, não evoluem de forma favorável no sentido da cura ou cicatrização, afectando antes estruturas vasculares, tendinosas ou ósseas, destruindo os tecidos e remetendo como única solução a amputação para solucionar o processo infeccioso destrutivo, e impedir a infecção generalizada (septicemia) que pode mesmo levar á morte do paciente. O reconhecimento de um pé de risco suscita medidas preventivas e terapêuticas, numa abordagem multidisciplinar.
Cuidados a ter com os pés do diabético
- Deve fazer lavagem diária com sabão vulgar e água morna, nunca fazendo banhos com água muito quente. A secagem deve ser cuidadosa, particularmente entre os dedos, hidratar a pele, tornando-a flexível e evitando as gretas;
- Unhas grandes, demasiado curtas ou mal cortadas podem causar lesões. O corte deve ser recto (tesoura de pontas redondas), pedir ajuda em caso de dificuldade motora;
- Se as unhas forem quebradiças ou grossas, ou se os bordos estiverem infectados, deve recorrer a um profissional de saúde (Podologista);
- Antes de calçar os sapatos, inspeccionar o interior com a mão, procurando corpos estranhos (areias, pregos...);
- Os sapatos não devem apertar os pés;
- Reparar nas partes desgastadas do sapato;
- Não caminhe descalço ou com sapatos abertos;
- Substituir diariamente as meias preferindo de algodão, claras e sem costuras;
- Não utilizar produtos abrasivos ou irritantes (calicidas);
- Não utilizar botijas de água quente ou colocar os pés junto de fontes de calor;
- Evitar cruzar a perna quando sentado;
- Elevar ligeiramente os pés enquanto dorme;
- Observar alteração e comparação da cor dos membros;
- Qualquer ferida no pé deve ser comunicada à entidade médica;
- O pé diabético merece uma atenção especial!
Fonte: Jornal do Centro de Saúde