Dr. Sérgio Ribeiro
A diabetes é uma doença decorrente da incapacidade em regular o açúcar (glicose) no sangue. A insulina permite que a glicose seja utilizada pelos tecidos ou transformada no fígado para armazenamento.
No diabético, a glicose não é usada convenientemente, quer por falta de produção de insulina (tipo 1), quer por incapacidade das células de utilizá-la (tipo 2). Há acúmulo de glicose no sangue, levando a que determinados tecidos não consigam utilizá-la e outros se vejam afectados pelo seu excesso.
Em Portugal, estima-se que a diabetes afecte meio milhão de pessoas. A diabetes tipo 1 (10% dos casos) manifesta-se na infância ou adolescência e é tratada com insulina. Já a diabetes tipo 2, que afecta 90% dos casos, manifesta-se depois dos 45 anos. Habitualmente, é tratável com dieta e medicação oral, no entanto, metade acaba por necessitar insulina.
Os níveis elevados de açúcar podem levar a alterações estruturais dos vasos sanguíneos. O oxigénio e outros nutrientes não chegam aos tecidos, levando ao compromisso das suas funções.
Os órgãos mais afectados são o cérebro, o coração, os rins e os olhos, aumentando o risco de AVC, enfartes, insuficiência renal e perda de visão. Tire algumas das dúvidas sobre os perigos.
Porque é preocupante para o olho?
A diabetes é uma das principais causas de cegueira no mundo desenvolvido e a principal abaixo dos 65 anos.
Como é o olho afectado?
A retina é a estrutura mais afectada. Funciona como película onde são captadas as imagens. Os vasos sofrem alterações estruturais, dilatando e deixando de ser estanques, provocando hemorragias e exsudação de líquido. Deste modo, aparecem na retina edema e hemorragias (retinopatia). A afectação da visão dependerá da extensão e da localização das lesões, sendo mais graves as que afectam a porção central (mácula). A deficiente oxigenação da retina é o estímulo para que novos vasos (neovasos) se desenvolvam. No entanto, estes têm paredes pouco estanques sendo fonte de novas hemorragias e exsudações.
Como evitar os neovasos?
Destruímos a retina que menos nos faz falta, para que tenhamos nutrição suficiente para a porção central (mácula). Tal é feito com laser.
Mitos sobre o laser?
É frequente o receio por parte dos pacientes relativamente ao laser. Está provado que o atraso no início do tratamento é a principal causa de insucesso. Como o objectivo do laser é sobretudo a estabilização da retinopatia, é muito importante não protelar, pois está-se a perder retina a cada momento que passa.
Conhecer os sintomas é suficiente?
Variações bruscas dos níveis de açúcar no sangue pode provocar turvação da visão, enquanto situações avançadas, nas quais as lesões não afectam a porção central da retina, é possível passarem sem sintomas. A resposta é claramente não.
Consultar o médico de família é suficiente?
O olho é um órgão que exige um nível de conhecimento muito elevado para poder convenientemente analisado. O clínico geral é importantíssimo, mas neste caso não é suficiente.
Quem se deve consultar?
O oftalmologista é antes de mais um médico e como tal habilitado a entender a doença, especializado em olhos.
A consulta deve ser anual, salvo surgimento de sintomas ou indicação em contrário por parte do médico.
Que exames são podem ser importantes?
Os exames mais usados são a angiografia na qual é injectado na circulação uma substância (fluoresceína) sendo posteriormente analisado o seu comportamento nos vasos, podendo-se tirar conclusões à cerca da integridade dos mesmos e o OCT que permite estudar as dimensões da retina, importante em situações de edema.
Quando é necessária a cirurgia?
A causa mais frequente é a catarata. No entanto, em casos muito avançados, com hemorragias ou descolamentos de retina, é necessário proceder a cirurgia denominadas vitrectomia de modo a tentar repor a estrutura original do olho. Mesmo assim, a função pode permanecer seriamente afectada. O glaucoma avançado também pode requerer procedimento cirúrgico.
O que deve fazer por si o diabético?
Dieta, exercício, não fumar. Cumprir a medicação. Consultar regularmente o oftalmologista.
Fonte: Health & Wellness