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domingo, 4 de abril de 2010

AR CONDICIONADO E DOENÇAS RESPIRATÓRIAS



J. Agostinho Marques

A vida urbana, e a deslocação das actividades laborais para a área dos serviços fizeram aumentar o número de espaços com ar condicionado para números impensáveis alguns anos antes. Grande parte deste aumento deveu-se às maiores exigências de conforto das pessoas no trabalho e em casa; em muitas outras situações as exigências são dos próprios equipamentos do trabalho. Há, no entanto, um número elevado de queixas relacionadas com o ar condicionado.

Genericamente, o ar condicionado pode produzir doença devido a contaminantes transportados no ar ou devido às próprias características físicas do ar arrefecido e seco.

O ar seco, ao atravessar as vias respiratórias causa arrefecimento intenso da mucosa devido à evaporação de água dos tecidos. Este mecanismo é suficiente para perturbar doentes sensíveis, como os asmáticos, cuja característica própria é a hipersensibilidade a estímulos inespecíficos. O desconforto assim causado depende sobretudo da própria sensibilidade pessoal do doente, não sendo sentido geralmente por outros.

Adicionalmente, muitos equipamentos de ar condicionado têm condutas onde se desenvolvem microrganismos, sobretudo fungos, em grande quantidade. A passagem do ar através destas condutas arrasta contaminantes para a atmosfera dos espaços interiores das casas que escapam à filtração dos sistemas. Estas situações, claramente relacionadas com equipamentos mal instalados ou com manutenção deficiente, são muito comuns, atingindo provavelmente a maioria das instalações que conhecemos.

As queixas respiratórias relacionadas com o ar condicionado são muitas vezes o agravamento de manifestações de asma e, sobretudo, de irritação nasal em doentes com doença alérgica ou vasomotora já conhecida. Muitos doentes, depois de um longo período a conviver com estas características ambientais no lugar de trabalho sem manifestarem queixas especiais, começam a notar que, cada vez mais, o ar condicionado os perturba.

Os seus contaminantes fúngicos podem contribuir simplesmente para o agravamento de queixas anteriores mas são muitas vezes responsáveis pelo aparecimento de manifestações em pessoas que antes não as tinham. Além de agravamento da asma e de rinites, descrevem-se também alveolite alérgica extrínseca (pneumonite de hipersensibilidade) de maior gravidade.

Além do tratamento dos doentes segundo regras consensuais descritas para a asma e rinite, é muito importante dar indicações úteis para a correcção das condições ambientais. Na clínica diária estes problemas têm a maior actualidade.

Um grande número de doentes revela dificuldades sentidas no meio laboral, sem alternativa, em termos de alteração do posto de trabalho. Muitas vezes, o doente acaba em conflito com o empregador e os colegas, agravando a asma com o factor emocional assim exacerbado.

Os técnicos são capazes de propor as alterações de equipamentos para conseguir condições de temperatura adequada sem excesso de secura. É muito mais difícil conseguir obter de modo sustentado a garantia de ar sem contaminações, depois dos equipamentos estarem montados já com os erros habituais com condutas de ar instaladas na estrutura dos edifícios. Por esta razão, há que pensar muito bem nos novos edifícios para evitar os erros do passado. Em instalações sanitárias do centro da Europa tem-se recorrido à instalação de painéis nas paredes de modo a obter o condicionamento ambiental através da irradiação em vez da insuflação de ar que as correntes de convecção levam às vias aéreas das pessoas.



Fonte: Health & Wellness