
O Equality 1, o primeiro estudo italiano a examinar a qualidade de vida dos diabéticos do tipo 1, revelou que os pacientes que utilizam a terapia com bomba de insulina levam uma vida com menos restrições motivadas pela doença do que os que usam múltiplas injecções diárias de insulina. Os resultados obtidos são semelhantes à realidade portuguesa.
A análise aponta para uma insatisfação motivada pelas restrições na dieta e pelos episódios de hipoglicemia, que é 40 por cento mais baixa nos diabéticos tipo 1 submetidos à terapia com bomba de insulina em comparação com os pacientes submetidos a múltiplas injecções diárias de insulina. Por outro lado, o descontentamento associado à terapia insulínica é menor (70 por cento inferior) nos diabéticos que utilizam a terapia com bomba de insulina.
O estudo foi conduzido em 62 centros, em Itália, envolvendo 1341 doentes, dos quais 481 receberam tratamento com bomba de insulina e 860 receberam múltiplas injecções diárias.
A Società Italiana Diabetologia e a Associazione Medici Diabetologi subscreveram os resultados do estudo e o Instituto Mario Negri Sud controlou o processo de recolha de dados e análise.
Antonio Nicolucci, director do laboratório de Epidemiologia Clínica de Diabetes e Cancro do Instituto Mario Negri Sud, em Chieti, esclarece os resultados do estudo: «A terapia com bomba de insulina resultou na redução do número de episódios hipoglicémicos, pelo que produziu um efeito positivo sobre a qualidade de vida. Mesmo os doentes com diabetes complicadas e difíceis de controlar ficaram satisfeitos quando utilizaram a bomba de insulina, comparados com os que receberam tratamento com múltiplas injecções diárias». Já Nicoletta Sulli, directora do Centro de Diabetes do Instituto Pediátrico da Universidade La Sapienza, em Roma, diz também que «ao verem a qualidade da sua vida melhorar, os doentes aderem mais facilmente à terapia, e assim é possível reduzir as complicações a longo prazo».
Recorde-se que a bomba de insulina é um pequeno dispositivo electrónico que contém um reservatório com insulina de acção rápida, ligado a um tubo fino que conduz a insulina até um cateter colocado no tecido celular subcutâneo, isto é no tecido por baixo da pele. Este sistema permite a administração contínua de insulina sem necessidade de picadas diárias, sendo apenas necessária a substituição do catéter, de três em três dias. Assim, consoante as refeições, actividade física ou stress, o diabético pode variar a quantidade de insulina administrada sem necessidade de picadas, explica Helena Cardoso, especialista em endocrinologia, diabetes e nutrição e médica no Hospital de Santo António, no Porto.
A especialista portuguesa explica ainda que a realidade portuguesa está muito próxima dos resultados avançados pelo estudo italiano, na medida em que os diabéticos que usam a terapia com bomba de insulina não querem voltar ao esquema das múltiplas injecções diárias, o controlo da diabetes tornou-se mais estável, com menos oscilações glicémicas, com diminuição do número e gravidade das hipoglicemias, o que resulta numa melhoria da qualidade de vida.
«Desta forma, comparativamente com as múltiplas injecções diárias com caneta ou seringas, a terapia com bomba de insulina permite glicemias mais estáveis e próximas da normalidade. Esta melhoria do controlo traduz-se em menor incidência de complicações agudas e crónicas associadas à diabetes como a cegueira, insuficiência renal ou doenças cardiovasculares», explica o comunicado divulgado.
Este dispositivo está indicado para diabéticos tipo 1 (diabetes insulino-dependente) ou seja, para diabéticos que necessitam de uma terapêutica com insulina para toda a vida para poderem sobreviver. Contrariamente à diabetes tipo 2, a diabetes tipo 1 não está relacionada com hábitos de vida ou de alimentação errados.
Segundo os dados da Federação Internacional da Diabetes, esta doença afecta 246 milhões de pessoas a nível mundial e prevê-se que este número atinja os 380 milhões em 2025.
Todos os dias são diagnosticados 200 novos casos de crianças com diabetes tipo 1 e estima-se que, em todo o mundo, mais de 440 mil crianças com menos de 14 anos têm diabetes tipo 1.
Em Portugal existem cerca de 650 mil portugueses diagnosticados com diabetes. Estima-se que dez por cento sejam diabéticos tipo 1, ou seja, cerca de 65 mil portugueses.
Sónia Santos Dias
Fonte: Sapo Saúde