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segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Fuga de Cérebros na Saúde

Cresce o número de profissionais de saúde portugueses que trabalham no estrangeiro. Num estudo publicado no último mês, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico + (OCDE + ) revela que 792 médicos e 1951 enfermeiros portugueses trabalham nos chamados países ricos. O relatório anual ‘Perspectiva da Imigração Internacional’ acrescenta que estes emigrantes representam 5,7 por cento dos enfermeiros a trabalhar em Portugal e 2,2 por cento dos médicos. Esta tendência não tem por destino apenas os membros da OCDE. Outros países com a economia em expansão têm atraído profissionais de saúde portugueses, como o Brasil, Angola ou os estados do Golfo Pérsico. Dados oficiais do governo brasileiro relativos a este ano revelam que só no estado de São Paulo 1800 médicos revalidaram o seu título profissional, pelo que estão a trabalhar legalmente no país. Os grupos mais representativos são os médicos bolivianos (435), seguidos dos portugueses (226), peruanos (153), argentinos (115) e colombianos (107).
Segundo Guadalupe Simões, secretária-geral do Sindicato dos Enfermeiros, a saída de enfermeiros, inserida na chamada fuga de cérebros, sofreu um importante acréscimo em 2007. “É conhecido que há grande interesse em emigrarem, sobretudo para a Suíça, Reino Unido e Estados Unidos”, refere. Canadá e Austrália são dois outros países muito procurados. Em Setembro de 2006 o sindicato avançava a existência de 150 pedidos para a homologação de certificados de enfermeiros que pretendiam trabalhar nos EUA.
Guadalupe Simões entende que “duas das causas para a saída de enfermeiros de um País em que o Governo reconhece existir uma carência de 30 mil destes profissionais, resulta de serem oferecidas condições precárias de trabalho como estágios não remunerados nos hospitais cujo objectivo é suprimir postos de trabalho e contratos sem quaisquer garantias de futuro”. Também o bastonário da
Ordem dos Médicos Dentistas + , Orlando Monteiro Silva, referiu que “estamos a exportar dentistas para países deficitários como a Inglaterra e Holanda”.
ESTADO SEGURA MÉDICOS
O total de médicos que trabalham para o
Serviço Nacional de Saúde + saiu reforçado no último ano, de acordo com contas do Ministério da Saúde que são contestadas pelo Sindicato Independente dos Médicos. Os médicos que por reforma ou rescisão saíram foram 943. Em compensação, entraram 2901 médicos, entre Janeiro de 2006 e Abril de 2007, pelo que o saldo final é positivo em 1951. Apesar desta situação favorável, o ministro da Saúde, Correia de Campos + , reconheceu a necessidade contratar médicos no estrangeiro para reduzir as Listas de espera + em Oftalmologia + e defende a possibilidade de os médicos poderem trabalhar com um horário reduzido no sector público.
LIDERANÇA NA EUROPA
Portugal lidera em termos percentuais entre os países europeus que mais são afectados pela saída de quadros técnicos para o estrangeiro. Segundo um estudo do Banco Mundial, 19,5 por cento dos portugueses com formação superior vive no estrangeiro. O estudo do Banco Mundial, que analisa o fenómeno conhecido como fuga de cérebros, situa Portugal no 21.º lugar na tabela de 112 países com mais de cinco milhões de habitantes. A lista é liderada pelo Haiti, com 83 por cento dos seus quadros técnicos fora do país. Portugal está entre a República Dominicana (21,6 por cento) e o Malawi (18,7 por cento). A saída destes profissionais é apontada como um entrave ao desenvolvimento.
MAIS INFORMAÇÃOEM PORTUGAL
Dados da OCDE revelam a existência de 4552 médicos, 5077 enfermeiros e 6238 outros profissionais de saúde estrangeiros a trabalhar no País. Destes, 61 por cento são provenientes de países africanos de língua portuguesa e 18 por cento do Brasil.
PALOP + AFECTADOS
O relatório sustenta que os países africanos de língua portuguesa (PALOP) lideram no número de profissionais a trabalharem nos países da OCDE: 65 por cento dos médicos de Moçambique, 62 por cento de Angola, 49 por cento da Guiné- -Bissau, 47 por cento de São Tomé e Príncipe e 43 por cento de Cabo Verde.
VALORES MUNDIAIS
A saúde é o sector com mais estrangeiros a trabalharem nos países da OCDE. Os maiores “exportadores” de enfermeiros são as Filipinas com 110 mil, seguindo-se o Reino Unido (45 mil), Alemanha e Jamaica, com 31 mil cada. Nos médicos, a Índia lidera com 55 mil, seguindo-se a Alemanha e o Reino Unido, ambos com 17 mil.
CINCO MIL EUROS
Circula na internet oferta de empregos para enfermeiros e dentistas nos EUA. Os salários são de cinco mil euros mais habitação. Mas há agências de emprego pouco credíveis.
PROFISSIONAIS EXPLICAM FENÓMENO
"PARTEM APÓS ACABAR O CURSO": Guadalupe Simões Sind. Enfermeiros
“Muitos dos enfermeiros a trabalhar no estrangeiro, não chegam a ter experiência profissional no nosso país. Terminam o curso, vêem que não conseguem emprego e partem então para o estrangeiro. Alguns com propostas enquanto estudantes, uns por resposta a anúncios e outros que se deslocam à procura de trabalho.”
"CONDIÇÕES MAIS FAVORÁVEIS": António Bento Sind. Ind. Médicos
“Condições mais favoráveis, nomeadamente de vencimento, é a razão pela qual partem médicos para o estrangeiro. Os médicos são como qualquer outro português: vão para onde recebem melhores condições. São precisos 13 anos para um médico obter a especialidade, havendo então maior interesse pelo seu trabalho.”
MÉDICOS / ENFERMEIROS A TRABALHAR NO ESTRANGEIRO
CANADÁ – 50 / 470
EUA – 200 / 710
R. UNIDO – 49 / 118
LUXEMBURGO – 2 / 58
ESPANHA – 61 / 49
FRANÇA – 164 / 108
SUIÇA – 22 / 283
AUSTRÁLIA – 218 / 67
OUTROS – 32 / 88
TOTAL MÉDICOS – 792
TOTAL ENFERMEIROS - 1951
Fonte: Correio da Manhã