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segunda-feira, 29 de outubro de 2007

GOVERNO QUER IMPOR MOBILIDADE AOS MÉDICOS E AOS ENFERMEIROS

O ministro da Saúde quer mexer nos recursos humanos da Saúde, prometendo incentivos para que alguns deles passem a trabalhar em zonas do país onde há escassez de determinadas especialidades. A política é apontada como prioridade, no Orçamento de Estado (OE2008) entregue no Parlamento (ver destaque em baixo).
Como no ano passado, Correia de Campos + indica no documento a implementação de um sistema para a gestão estratégica dos recursos humanos. Mas agora acrescenta a adequação da formação às necessidades do Serviço Nacional de Saúde + (SNS), nomeadamente em termos de medicina familiar, bem como o uso dos instrumentos de mobilidade dos profissionais na Administração Pública + . Sem pormenores o ministro remete-se ao silêncio até à discussão na especialidade.
Os representantes de médicos e enfermeiros, ouvidos pelo JN, dizem que não faz sentido falar em mobilidade quando o problema está simplesmente na falta de gente. Um sentimento unânime entre os parceiros.
Afastando-se da linha de condescendência que caracterizou os primeiros anos da sua relação com o ministério de Correia de Campos, o bastonário da Ordem dos Médicos + (OM) sorri quando lê a parte tocante à mobilidade e encolhe os ombros no que diz respeito à reorientação da formação.
"É lá com ele. Pode eventualmente mexer nas vagas do internato, mas o certo é que, até hoje, a abertura de vagas não tem tido nenhum critério científico", diz Pedro Nunes, para quem o problema da escassez de recursos humanos se resolve, para já, aumentado as vagas e, a posteriori, pensando cuidadosamente numa reforma da formação, em que a especialização se faça, por exemplo, ao longo da carreira e de acordo com a evolução tecnológica.
E se é certo que a OM não foi ouvida sobre o assunto, Pedro Nunes já assume que também não dirá nada ao ministro. "Para quê? Também lhe disse que não devia fechar centros de saúde no interior e ele fechou, assim como disse que, se concentrasse maternidades, teria que dar mais recursos às maternidades de acolhimento. E não deu. Ele que nos pergunte".
Mais desligados da questão da formação adequada às necessidades, os enfermeiros param na parte da mobilidade. Maria Augusta Sousa + , bastonária da Ordem do sector (OE) concorda claramente com a necessidade de uma gestão estratégica dos recursos, mas questiona se o problema desses recursos se resume à medicina familiar. "É uma visão restrita do que devem ser os cuidados primários, até porque se deve falar em saúde familiar, com uma abordagem multidisciplinar, e não em medicina familiar". As linhas do OE "afunilam a definição do que deve ser o reforço obrigatório dos recursos humanos nesta área". E avança um número na maioria dos países europeus, há um médico para cada três enfermeiros nos cuidados primários. "Cá, somos menos que os médicos".

Destapar a cabeça...
Guadalupe Simões, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses + (SEP), pormenoriza aquilo que entende como incongruência. "Não faz sentido nenhum falar em mobilidade quando é reconhecido pelos próprios serviços do ministério que faltam 21 mil enfermeiros nos hospitais e 12 mil nos cuidados primários".
Isto num país onde há enfermeiros no Desemprego + e onde outros já optaram pela imigração, por restrição às admissões, recorda a sindicalista, e onde nos últimos dois anos só se aceitaram mais 900 profissionais nos hospitais e se tiraram 150 aos cuidados primários. "Para um Governo cuja bandeira política é assegurar cuidados primários e promoção da saúde, não faz sentido". Todo o SNS é "deficitário". O OE2008 deveria era prever "um aumento dos recursos". Sem isso, avisa, Portugal não sairá do lugar de país com mais baixo número de enfermeiros por habitantes.Na OE espera-se que a mobilidade "não se destape a cabeça para tapar os pés. Ficaríamos na mesma doentes".
Na OM, alinha-se na ironia. "Subscrevo os Gato Fedorento. É a cegueira pelo défice", diz o bastonário dos médicos - "em muitas áreas há alternativas privadas e as pessoas acabarão por sair do SNS".
O alerta de Pedro Nunes é directo. "Nos próximos dez anos vão faltar profissionais. É preciso acarinhar os que existem a tempo de formarem os novos. Se se continua a hostilizar os recursos e se dá a debandada geral, não será a meia dúzia que fica que vai assegurar os cuidados". É que, diz, os números são claros 90% dos médicos de família, por exemplo, têm mais de 50 anos."
Fonte: Jornal de Notícias