Camas espalhadas pelos corredores, salas de estar e refeitórios transformados em enfermarias, utentes obrigados a tomar as refeições nos quartos e nos próprios corredores. Gerando grande insatisfação de familiares dos que ali se encontram internados e do próprio pessoal que lhes presta cuidados. É este o cenário actual do Hospital Dr. João de Almada, que, até há bem pouco tempo, era tido como modelar ao nível das condições que oferecia.
A realidade é recente e tomou forma com a transferência de internados do Hospital dos Marmeleiros para a unidade hospitalar situada a algumas centenas de metros. Iniciada em finais de Setembro e que se foi prolongando, embora em menor escala, pelo corrente mês de Outubro.
Menor qualidade de vida
Os principais prejudicados com esta sobrelotação são, naturalmente, aqueles que já se encontravam há mais tempo no Hospital Dr. João de Almada. Que viram, agora, a sua qualidade de vida reduzir consideravelmente, em especial com a conversão de algumas salas de estar e refeitórios em enfermarias. Sendo obrigados a tomar as suas refeições nos quartos e até nos corredores. A sobrelotação é vísivel não só nas camas existentes nos corredores, mas também naquelas que estão amontoadas nos quartos. Pudemos constatar, por exemplo, a existência de quatro camas numa enfermaria improvisada (antes sala de estar).
Mais doentes e o mesmo pessoal
Por outro lado, a entrada de mais internados não foi acompanhada pelo reforço do número de funcionários. Que assim, para além do acréscimo de trabalho, se vêem impossibilitados de prestar a mesma atenção de antes aos que lá vivem. Esta situação tem gerado descontentamento da parte de familiares das pessoas que ali estão. É que muitas delas, a maioria idosos, pagam (e bem) para beneficiar da permanência naquele espaço. Os restantes fazem parte das chamadas altas problemáticas - que segundo Filomeno Paulo está na raiz do problema.
Perguntas a... Filomeno Paulo
Como analisa a situação de sobrelotação do Hospital Dr. João de Almada, com camas colocadas em corredores e salas de estar convertidas em enfermarias?
Há, realmente, neste momento uma pressão muito grande na lotação do Hospital Dr. João de Almada. Transferimos alguns doentes que se encontravam nos corredores dos Marmeleiros para os corredores do Dr. João de Almada. Porque, apesar de a situação não ser a mais desejável, agora terão melhores condições do que aquelas que dispunham anteriormente. Mas a sua condição clínica não se altera: são utentes que estavam nos Marmeleiros com alta problemática e que têm sido transferidos aos poucos, porque uma transferência destas não se faz de uma vez só. Optámos por aumentar ligeiramente a capacidade do Hospital Dr. João de Almada porque sentimos que era necessário aliviar um pouco da pressão do Hospital dos Marmeleiros. Porque este último precisa de ter camas disponíveis para que os doentes não se acumulem na urgência.
São, então, as altas problemáticas que estão por detrás desta situação?
Na sua grande maioria são os doentes das chamadas altas problemáticas que, de facto, ocasionam este problema. Estamos atentos a esta situação e sabemos que a sua solução não passa pelo internamento das pessoas, mas sim por uma parceria entre as instituições de saúde e solidariedade social e as famílias, no sentido da criar-se condições para que os idosos permaneçam entre as suas famílias. Entretanto, gera-se algum desconforto para os utentes do Hospital Dr. João de Almada...Os utentes do Hospital Dr. João de Almada, do Hospital Cruz de Carvalho e do Hospital dos Marmeleiros são todos utentes do Serviço Regional de Saúde. Ainda que a finalidade do Dr. João de Almada seja diferente dos outros, que não de tratamento mas mais virada para o apoio e muito semelhante a um lar. Só que não podemos ter uma unidade modelar e a 200 metros outra com problemas enormes na sua funcionalidade.
A transferência dos internados tem alguma relação com a auditoria de certificação de qualidade recentemente feita ao Hospital dos Marmeleiros?
A auditoria foi feita há três semanas e continua a haver transferência de doentes para o Hospital Dr. João de Almada. Se fosse essa a questão, já poderíamos ter devolvido os doentes ao Hospital dos Marmeleiros.
Fonte: DN