
«Os poucos casos, que conseguem obter e manter uma Integração social + adequada, são os que beneficiam em regra dum forte e duradouro apoio familiar», afirmou Eulália Calado, no Seminário Internacional «Novas Idades Velhas - Envelhecimento + das Pessoas com Deficiência», a decorrer no Porto.
Eulália Calado coordenou um estudo comparativo entre dois inquéritos realizados, em 1991 e em 2007, ao mesmo grupo de 32 indivíduos, com idades actuais entre os 35 e os 53 anos e que fizeram seis anos de escolaridade no Centro Regional de Paralisia Cerebral de Lisboa.
«Os resultados, quanto à sua integração social, são desanimadores e algumas histórias de vida são uma verdadeira acusação à inoperância e desarticulação dos profissionais envolvidos com as áreas da deficiência«, afirmou a neurologista pediátrica.
Segundo a especialista, a paralisia cerebral ainda é considerada como uma doença pediátrica, o que »não corresponde minimamente à verdade«.
«Estes indivíduos envelhecem tal e qual como nós, mas os médicos de adultos não estão familiarizados com os seus problemas», lamentou a médica, referindo que a maioria destes doentes são acompanhados na infância e adolescência por grandes hospitais onde estão concentradas todas as especialidades.
Quando chegam à idade adulta, frisou, «são entregues aos médicos de família que não os conhecem de lado nenhum e muitas vezes não estão preparados para lidar com a situação».
Na sequência dos inquéritos realizados, a médica constatou que estes doentes têm dez vezes mais probabilidades de doença oncológica do que a população normal.
«A principal causa é que este grupo não entra no esquema da prevenção, ou seja, não faz os rastreios que a maioria da população faz, nomeadamente aos cancros que mais matam em Portugal«, acrescentou.
Trinta e dois por cento dos inquiridos, disse, possui o nono ano de escolaridade e apenas dez por cento tem formação universitária, apesar da »suas capacidades cognitivas serem normais ou até acima da média«, sublinhou Eulália Calado.
A responsável manifestou-se também muito crítica em relação ao tipo de formação profissional que é prestada a este grupo de doentes, citando como exemplos, os cursos de pintura em azulejo e de tapetes de Arraiolos.
«Quem programa este tipo de formação profissional?» e «Quem avalia os resultados?», questionou Eulália Calado, sublinhando tratar-se de pessoas com limitações motoras, com problemas de Mobilidade + , mas com capacidades cognitivas normais.
A neurologista realçou que, do grupo estudado, 64 por cento frequentou formação profissional, mas 85,7 por cento destes está sem emprego.
Segundo o mesmo estudo, em 1991, 40,6 dos indivíduos estava a trabalhar, mas este ano o número ronda apenas os 29,2 por cento.
Os números invertem-se no capítulo da Habitação.
Em 1991, apenas 6,9 por cento tinham casa própria (20,8 em 2007), 72,4 por cento vivia em casa dos pais (50 por cento em 2007) e 20,7 por cento em unidades residenciais (29,2 em 2007).
Actualmente, 58,3 por cento dos indivíduos questionados não tem qualquer relacionamento afectivo.
«Esta amostra é a expressão da realidade«, sublinhou a neurologista, lamentando a inexistência de dados epidemiológicos desta situação em Portugal.
Eulália Calado considerou fundamental conhecer a sua prevalência para a planificação dos cuidados necessários e defendeu que a autonomia, a independência económica e integração social devem ser os objectivos últimos dos programas de reabilitação/habilitação e de suporte social para a população com paralisia cerebral sem atraso mental grave.
O seminário »Novas idades Velhas« é organizado pela Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral.
Ao fim da tarde vai intervir Caroline Glendinning, professora de Política Social na Unidade de Investigação sobre Política Social da Universidade de York, em Inglaterra, onde lidera um programa de investigação financiado pelo Ministério da Saúde + inglês.
Este programa de investigação examina a forma como as pessoas com deficiência e idosas fazem escolhas no contexto da mudança de circunstâncias, bem como o papel dos familiares e profissionais na realização dessas escolhas.
Tradicionalmente, segundo adiantou à Lusa Caroline Glendinning, »os serviços às pessoas com deficiência eram prestados pelas autoridades locais ou contratados por estas a um fornecedor independente«.
A especialista explicou que actualmente, uma pessoa com deficiência pode, em vez disso, receber um pagamento directo, ou seja, o montante equivalente a serviços de cuidados pessoais e domiciliários.
«A maior parte das pessoas portadoras de deficiência utilizam este pagamento para contratar o seu próprio cuidador, normalmente designado de Assistente social + », afirmou.
Outro novo sistema, denominado «Orçamentos individuais» está actualmente, segundo a especialista, em fase de avaliação em Inglaterra.