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domingo, 4 de novembro de 2007

SAÚDE MENTAL EXIGE MAIOR EXPERIÊNCIA

O caso não deixou ninguém indiferente e a verdade é que ontem, muita gente perguntava como era possível acontecerem situações destas. A morte de uma criança de dois anos, na sexta-feira, pela própria mãe continua em investigação e pouco se sabe sobre as motivações que a levaram a agir desta forma. Porém, o psicólogo Emanuel Alves considera que é oportuno levantar algumas dúvidas sobre a realização dos exames psicológicos nestes casos.
É preciso mais experiência nos exames psicológicos
A mulher de 31 anos que alegadamente matou a filha de dois anos por envenenamento, continua em estado grave no Hospital Central do Funchal + , tendo sido transferida para a Unidade de Cuidados Intensivos + .
Em declarações à agência Lusa, Rafael Freitas, chefe da equipa do
Serviço de Urgência + da unidade de saúde madeirense referiu que se verificou durante a noite uma ligeira melhoria da paciente, mas que "o seu estado de saúde se agravou cerca das 02:00, pelo que foi necessário transferi-la para os Cuidados Intensivos".
"Continua em estado grave, ventilada, pelo que está incontactável", adiantou.
Recorde-se que o Tribunal de Família e Menores havia retirado à mãe a guarda da criança, alegadamente, por problemas de “disfunção familiar”. A menor foi então confiada à Fundação Zino, no Funchal.
Aparentemente, durante uma visita na instituição, a mãe terá feito a filha ingerir um sumo, que tudo indica teria algum produto tóxico e depois tentou suicidar-se.A equipa da
EMIR + (Equipa Médica de Intervenção Rápida) foi chamada ao local, mas foram infrutíferas as tentativas para salvar a criança, que chegou ao hospital já cadáver.
Ontem eram já várias as versões sobre o acontecimento, entre as quais a de que esta não teria sido a primeira tentativa da progenitora. Uma questão que, para já, continua sem resposta pois de acordo com a PJ, tudo está ainda em fase de inquérito. Em declarações à Lusa, uma fonte desta polícia confirmou ter sido activada, ao final da tarde de sexta-feira, mais concretamente por volta das 17:45 horas, para este caso, que classificou de "uma situação de eventual homicídio de uma criança, seguida de um
Suicídio + da mãe", acrescentando que a "PJ está a recolher elementos".
Para mais, só o resultado da autópsia poderá determinar qual o produto que provocou a morte da criança.Tribunal encerrado deixa respostas para amanhãOntem, ao JM, fonte da PJ voltou a garantir que tudo está “indefinido” e em fase de “recolha de elementos”, pelo que todo o tipo de afirmações são, neste momento, descabidas.
“A situação precisa de tempo para ser esclarecida. Não pode ser de ontem para hoje que se começa a fazer afirmações tão peremptórias quanto as que temos ouvido”, complementou. Adiantou que a PJ está a investigar todas as circunstâncias, sendo este um caso que terá toda a “morosidade necessária”.
“Nós também trabalhamos ao fim-de-semana. Mas, são precisas horas, às vezes dias, para ouvir pessoas, recolher elementos e indícios, analisar líquidos para perceber onde foram adquiridos. Ou seja, há uma série de coisas que demoram o seu tempo”, informou.
Diz que será preciso também esclarecer as circunstâncias em que se processavam as visitas, situação que só será possível amanhã, dado que o Tribunal de Menores também se encontra encerrado e é aqui que poderão ser encontradas muitas das respostas sobre este caso, nomeadamente, o conteúdo da decisão de entrega da guarda da criança à Fundação.Emanuel Alves põe em causa exames psicológicos na RegiãoPara o psicólogo Emanuel Alves, os dados disponíveis não permitem, para já, fazer uma análise correcta sobre o caso. Primeiro, diz que há que perceber porque foi retirada a criança à progenitora. Depois, saber porque razão actuou a mãe desta forma. Mas, mais importante, é saber quais os dados de que disponham as entidades competentes sobre a mulher. «Alguma coisa está mal aqui», desabafou ao JM.
Emanuel Alves não põe em causa o processo de visita dos familiares às crianças, mas sim a forma como estas famílias são separadas e como lhes é transmitida essa situação. «Penso que todas as instituições e famílias de acolhimento tentam fazer o melhor possível. Provavelmente, há é que repensar a forma como estas crianças são retiradas do seio familiar. Vou dar-lhe um exemplo, que nem sei se é o caso. Muitas vezes, os miúdos são dados para adopção mas, depois, ao mesmo tempo, permite-se aos pais que os possam ver. Isto é completamente ridículo, pois cria uma ideia pré-concebida à mãe de que vai perder a filha».
Por outro lado, aponta para a eventualidade de, em todo este processo, «haver aqui gente que elaborou relatórios, quer sociais, quer psicológicos, dos quais deve constar uma análise a esta mãe. E se ela apresentava alguma perigosidade, a questão põe-se: foi ou não mencionado no relatório a situação? Para esta filha ser retirada, houve — suponho eu — exames psicológicos a esta mãe», alerta.
Mas, esta questão levanta outras dúvidas ao psicólogo, nomeadamente, sobre a experiência de quem faz os relatórios. «Neste momento, esta situação levanta-me, seriamente, muitas questões. Porque, antes havia alguma experiência. Agora, há situações na saúde mental, porventura, menos cuidadas». Neste âmbito, Emanuel Alves lamenta mesmo o facto de, neste momento, recorrer-se a recém-licenciados para fazer exames e trabalho para as Comissões de Menores. «Se você acaba um curso e lhe pedem para tomar uma decisão destas, obviamente vai “meter água” porque não sabe ver estas coisas. Acho que estão a ser feitos exames psicológicos que, porventura, merecem mais cuidado e muitas outras situações na área da saúde mental. Senão, obrigatoriamente, teremos mais situações destas».
Emanuel Alves considera ainda que o Estado também não pode lavar as mãos de situações destas e alerta para outras questões. «Há que perceber a importância do trabalho destas Comissões — que não são infalíveis — mas também a responsabilidade que tem de haver nas mesmas. É certo que ninguém conseguia adivinhar o que a mãe ia fazer no futuro. Agora, também não sei se ela tinha, ou não, “historial”. Neste caso, as instituições são guardas, mas quem sabe é quem manda. O que eu quero acreditar é que é preciso haver mais experiência e mais cuidado. E o que se está a passar na saúde mental é o reflexo de tudo isto», diz.Emanuel Alves conclui com um outro alerta: é que a questão social não pode constituir o único argumento de peso para retirar menores do seio das famílias. «Independentemente da análise social, em muitos dos casos, a fé e ensinamento de princípio cristão pode permitir sermos excelentes pais», lembrou.
Secretaria diz que o caso estava entregue à Comissão de Protecção de Menores
A Secretaria Regional dos Assuntos Sociais + garante que não há qualquer motivo para actuação ou comentário sobre este caso, até porque, recorda, a criança estava a ser acompanhada pela Comissão de Protecção de Menores, ou seja, estava sob a tutela da Justiça. “Era uma criança que estava internada na Fundação Zino por determinação judicial. E estava a ser acompanhada pela Comissão de Protecção de Menores. Não podemos adiantar mais nada, porque é um caso que está em segredo de justiça e investigação criminal. Mas, não tem nada a ver com a Segurança Social + ”, confirmou fonte da Secretaria.
Celso Gomes
Fonte: Jornal da Madeira