Cátia Jorge
Para quem, durante o Verão, preferiu as saladas, as sopas e a fruta, em princípio, não terá de se preocupar com suplementos vitamínicos, dado que uma alimentação variada e equilibrada é já composta por todos os nutrientes necessários para o bom funcionamento do organismo. Por outro lado, quem passou as férias a fazer refeições rápidas na rua, à base de sanduíches, pizzas, hambúrgueres e gelados, o melhor será equilibrar e repor as carências nutricionais de uma alimentação rica em calorias, mas pobre em nutrientes.
O trabalho e as aulas estão à porta e exige-se o melhor desempenho possível, tanto físico como intelectual.
«Uma alimentação variada dispensa qualquer tipo de suplementos vitamínicos. Pode haver casos excepcionais de carência de ingestão de alimentos, doenças como a diabetes ou em que não há uma boa absorção intestinal, em casos de grande desgaste físico, de stress ou em fumadores dado que o tabaco é um pró-oxidante, como tal recomenda-se um suplemento de antioxidante», explica o Dr. Nuno Nunes, nutricionista do Hospital de São Bernardo, em Setúbal.
«Pode também haver outros casos especiais em que os suplementos vitamínicos são fundamentais. É o caso dos doentes com obesidade mórbida, sujeitos a colocação de banda gástrica, que têm dietas muito restritivas e têm nos suplementos a única forma de repor todos os nutrientes que não ingerem nos alimentos. Pessoas que tenham alergia a vegetais ou intolerância a qualquer outro alimento podem também substituí-los por suplementos», acrescenta o especialista.
Combate à fadiga
Para os estudantes, aos quais se exige o maior desempenho cognitivo, nem sempre é fácil manter os ritmos de aprendizagem e memória. O rendimento escolar tende a diminuir com o avançar do ano lectivo, e a certa altura o desgaste é tanto que muitos alunos sentem-se desesperados com trabalhos para entregar, exames para fazer e notas para subir. Uma vida dura, como se costuma dizer, e um período difícil de superar quando a pressão aperta.
«É muito frequente os pais ficarem preocupados e pedirem aos médicos de família ou nutricionistas suplementos para combater o cansaço e a fadiga em época de exames e de grande desgaste intelectual», afirma o especialista de Setúbal.
Não é um mito nem têm efeito placebo, o que é certo é que resultam mesmo e devolvem aos estudantes a energia que se julgava esgotada.«Ao combater o cansaço, estes suplementos dão um novo ânimo e mais vontade de estudar. Neste sentido, os seus efeitos podem reflectir-se no aproveitamento escolar», continua Nuno Nunes.
O mesmo se aplica a quem já passou a fase da escola, mas que, a determinada altura, se sente sem forças para continuar...
Seja no desporto, na vida profissional, ou até em idades mais avançadas, os suplementos prometem equilibrar as carências do corpo e da mente. No entanto, Nuno Nunes volta a lembrar que «nada disto será necessário se for adoptada uma dieta rica em nutrientes e equilibrada».
Alimentos enriquecidos
Pão com cálcio, manteiga com ómega 3, leite com ferro, bolachas com ácido fólico são alguns dos exemplos de alimentos enriquecidos com nutrientes que não fazem parte da sua natureza.
Mais uma vez, a ideia é repor os nutrientes em falta no organismo e facilitar uma alimentação que acompanhe o ritmo de vida diário. Um copo de leite com uma sanduíche de manteiga e duas bolachas teriam os nutrientes de uma refeição completa de carne ou peixe. A verdade é que não será esta a desculpa para fugir à cozinha tradicional mediterrânica, que faz parte da nossa cultura gastronómica.
«Estamos cada vez mais a abandonar essa cultura, o que é uma pena, pois, alimentos como o pão, o azeite, as saladas, as sopas, a fruta, os vegetais e o peixe são essenciais para uma dieta equilibrada e saudável. Não são os produtos enriquecidos que vão substituir a origem desses nutrientes», avança Nuno Nunes, continuando:
«Sempre que houver deficiências nutricionais, é preferível tomar um suplemento do nutriente em falta. Mas, embora os suplementos sejam vendidos livremente nas farmácias, deve sempre haver vigilância médica.»
«Overdose» de vitaminas
De acordo com Nuno Nunes, cada situação deve ser averiguada isoladamente. «Tem de se avaliar caso a caso, e sempre com recomendação médica. Ninguém deve começar a tomar suplementos sem motivo aparente. Cabe ao médico avaliar as carências nutricionais para prescrever o produto mais indicado», argumenta.
Até porque, em vez de benéficos para a saúde, os suplementos podem ser perigosos se tomados em excesso. O abuso de vitamina D, por exemplo, pode trazer problemas graves, no sentido em que irá aumentar a absorção de cálcio.
«Convém não esquecermos que a diferença entre o veneno e o medicamento está precisamente na dosagem. O mesmo acontece com as vitaminas.
Se tomarmos mais do que o nosso organismo tolera, podemos originar uma hipervitaminose. Especialmente com as vitaminas hipersolúveis, que são facilmente absorvidas pelo organismo. A vitamina C, por exemplo, é antioxidante, porém, se for consumida em excesso ganha um efeito oposto, tornando-se pró-oxidante», diz o nutricionista.
É aqui que reside o perigo de tomar suplementos vitamínicos indiscriminadamente, sem conhecer os riscos do abuso do seu consumo. Ao contrário do que se pensa, vitaminas a mais podem realmente fazer mal.
Fonte: Medicina & Saúde