
Não há números precisos, mas estima-se que, anualmente, uma média de 50 a 60 homens fazem uma vasectomia na Madeira. O que, não sendo muito significativo em comparação com aquilo que acontece na maioria dos países desenvolvidos, não deixa de ser relevante numa sociedade ainda algo tradicionalista quando se trata de questões do foro sexual. Até porque se trata de uma intervenção cirúrgica simples, de baixo custo, com raríssimos casos de insucesso, que é reversível e que representa uma das opções mais seguras ao nível do Planeamento familiar + .
Por norma, são os homens da faixa etária situada entre os 35 e os 40 anos, com um nível cultural e de informação elevado, que mais recorrem à vasectomia na Madeira.
A maioria são casados, têm dois ou mais filhos e, por isso mesmo, optam por este tipo de método contraceptivo como uma solução definitiva. Mesmo que, como se disse, este seja um método reversível.
Seguro, eficaz e barato
João Faria Nunes é um dos médicos que mais vasectomias faz na Madeira - cerca de três dezenas por ano. E foi um dos primeiros no país a realizar este tipo de intervenção cirúrgica recorrendo somente à anestesia local. Desde 1991 que as faz e, ressalva, "sem qualquer caso de insucesso" a registar. De resto, de uma forma geral, as taxas de falha desta operação são inferiores a um por cento!
"Faço mais vasectomias do que estava à espera, mas menos do que gostaria que fossem feitas", refere o clínico madeirense, numa avaliação que tem por base as vantagens deste método anticoncepcional. "Que são muitas", acentua!
O primeiro aspecto positivo relaciona-se com o facto de ser um método "bastante seguro e eficaz". Mesmo assim, adverte, obriga a um prazo de segurança de dois a quatro meses ou de 20 ejaculações após a cirurgia, durante o qual "é imprescindível" que o homem utilize outro método contraceptivo.
Restabelecimento rápido
É por isso que, sublinha João Faria Nunes, é exigida a assinatura de "um termo de responsabilidade", referente à questão do prazo atrás descrita, a quem se sujeita à cirurgia. Este prazo de segurança, explica o clínico, justifica-se pelo facto de, aquando da cirurgia, "haver espermatozóides que já se encontram para além da zona de corte". Além de que existe a possibilidade, "muito remota mas possível", de o próprio organismo "fazer a recanalização dos vasos deferentes". É por isso que, completado esse prazo, é feita uma análise ao sémen no sentido de confirmar que já não existe passagem de espermatozóides.
O médico madeirense aproveita para deixar claro que as vasectomias "não afectam minimamente o Desempenho + sexual do homem". Porque, acrescenta, "ainda há quem baralhe disfunção sexual com Infertilidade + ", sendo esta uma das razões que explicam a relutância de alguns homens em optar por este método concepcional.
Por outro lado, não são conhecido efeitos secundários a longo prazo. Apenas nos dias seguintes à operação pode ocorrer um ligeiro sangramento e um hematoma que se resolvem por si só. De tal forma que o homem pode retomar a sua actividade sexual 24 horas após a cirurgia.
Método reversível
Outro aspecto positivo da vasectomia é o seu carácter reversível. Ao contrário, por exemplo, do que sucede com a laqueação das trompas, que é, por assim dizer, a cirurgia equivalente praticada nas mulheres. A reversibilidade pode ser atingida de duas formas. Através da vasovasostomia - assim se chama a cirurgia que refaz a ligação entre os vasos deferentes - ou da recolha dos espermatozóides directamente do testículo para posterior inseminação artificial. Faria Nunes assegura que esta segunda opção "é mais simples de efectuar". Porque a vasovasostomia , além de ser uma microcirurgia "complicada, demorada e cara", não garante pleno sucesso. "Há 20 a 30 por cento de hipótese de não se conseguir a recanalização", explica. Existe ainda a possibilidade de o homem proceder ao congelamento de esperma antes de efectuar a vasectomia.
O clínico refere, no entanto, que são raros os casos dos homens que, após terem optado por este processo de esterilidade, voltam a querer ter filhos. Na sua experiência médica deparou-se com apenas um caso. Tal acontece, sobretudo, quando o casal tem um filho único, que acaba por morrer, ou então após uma situação de um novo casamento.
João Faria Nunes também já recusou fazer duas vasectomias. "Por uma questão de consciência pessoal, porque, em ambos os casos, tratavam-se de homens sem filhos", justifica.
O Que é vasectomia
A vasectomia é uma cirurgia simples, que se efectua em pouco mais de dez minutos. Exige somente anestesia local e não necessita, por isso, de internamento. A intervenção cirúrgica consiste, resumidamente, em fazer-se um corte de cerca de meio centímetro no escroto, através do qual se puxa o vaso deferente, recorrendo a uma pinça, por forma a permitir o respectivo corte. Depois, é só colocar os vasos deferentes no sítio. Com esta cirurgia consegue-se impedir a passagem dos espermatozóides do testículo para a vesícula seminal. Dito de outro modo, o homem continua a ejacular normalmente, mas o seu sémen deixa de conter espermatozóides.
Fonte: DN