
O trabalho de James A. Thomson e Shinya Yamanaka, publicado nas revistas ‘Cell’ e ‘Science’, explica como os especialistas conseguiram transformar células da pele em tecidos cardíaco e nervoso. O processo utilizado consistiu na inserção de quatro genes no núcleo da célula, auxiliados por rotavírus. Um método que não está isento de riscos. “Há problemas inerentes a este processo”, confirma ao CM Rui Reis, presidente da Sociedade Portuguesa de Células Estaminais e Terapia Celular. “A introdução dos genes com os vírus pode provocar tumores”, acrescenta, afirmando, no entanto, “que este trabalho abre uma grande janela de oportunidades”.As reacções não se fizeram esperar e muitos são os que acreditam que este avanço vai relegar para segundo plano a Clonagem + e manipulação embrionária. Ian Wilmut, o criador da ovelha ‘Dolly’, já confirmou o desejo de abandonar a técnica que usou para clonar o animal a favor do novo método de reprogramação induzida. Para Rui Reis, “por mais potencial que tenha este método, não se pode abandonar todas as outras linhas de investigação. Não só se trata da primeira vez que se consegue esta reprogramação, como há outros caminhos interessantes, como o uso das células do cordão umbilical ou das do fluido da membrana amniótica”.
DO LABORATÓRIO PARA A PRÁTICA CLÍNICA
As experiências multiplicam-se por todo o Mundo, tendo em comum a utilização de células estaminais, redobrando a esperança de solucionar problemas considerados incuráveis. As inúmeras teorias e investigações dão origem a aplicações práticas, como em Espanha, onde se testa a eficácia deste tipo de células, usadas em transplantes, para regenerar corações debilitados por enfartes do miocárdio. Cientistas italianos lograram devolver a visão a um doente quase cego devido à degradação da córnea graças a um tratamento realizado com recurso à aplicação de células estaminais.
Foi também a partir das estaminais, conhecidas ainda como células-mãe, desta feita retiradas do sangue do cordão umbilical de recém-nascidos, que cientistas britânicos conseguiram criar o primeiro Fígado + humano – um passo importante para conseguir, dentro de alguns anos, regenerar fígados debilitados. Permitir a um lesionado medular, impossibilitado de andar, dar os primeiros passos, foi mais um ‘milagre’ conseguido graças à aplicação de células-mãe, desta feita na Coreia do Sul. Hwang Mi-Soon voltou a andar depois de vinte anos presa a uma cama, na sequência de um acidente.
Fonte: Correio da Manhã