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segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

"VACINA NÃO ELIMINA RASTREIO"

Um rastreio organizado faria diminuir os casos de cancro do Colo do útero + em 70%
Anualmente, são diagnosticados na Região entre 12 e 18 casos de cancro do colo do útero, especialmente em mulheres com idades compreendidas entre os 30 e os 50 anos. 30% deles são mortais.

A média regional é semelhante à do país (900 casos por ano), porém, a incidência deste tipo de cancro em Portugal é uma das mais elevadas da Europa Ocidental.
O médico ginecologista José Moutinho, um dos maiores especialistas portugueses na área, refere que a alta incidência em Portugal deve-se sobretudo à falta de um rastreio organizado ao cancro do colo do útero. Sem querer retirar qualquer importância às Vacinas + que já estão disponíveis no nosso país e que previnem o aparecimento de duas das mais importantes estirpes do vírus do Papiloma Humano - HPV + (responsáveis por 70% dos casos dos carcinomas do colo do útero), o especialista explica que houve um rastreio organizado a pelo menos três quartos das mulheres portuguesas com idades entre os 30 e os 65 anos. A incidência da doença em Portugal baixará para o nível dos restantes países europeus.
"O cancro do colo do útero é uma doença que demora a aparecer e antes de se desenvolver existe uma lesão pré-maligna", refere. Se as displasias (lesões), facilmente detectadas com um teste papanicolau, forem tratadas, "evitamos o aparecimento do cancro".
José Moutinho, que esteve no Hospital Central do Funchal + na última sexta-feira, admite mesmo que, se estes carcinomas forem "apanhados" numa fase inicial da doença, a taxa de cura é bastante elevada. "Hoje em dia, o dinheiro que se gasta no rastreio do cancro do colo do útero é ganho em vidas poupadas e nos custos dos tratamentos do carcinoma invasor".
É por isso que defende que "as vacinas não eliminam o rastreio". É fundamental vacinar, mas continuar a rastrear. "Estamos muito motivados com a vacina, porque se tiver o êxito que se espera vamos diminuir o cancro em 70%. Mas se nós não tivéssemos vacinas e tivéssemos um rastreio organizado, o cancro diminuiria em 70%".
Apesar de ser apologista do rastreio, José Moutinho, tal como todos os outros médicos ginecologistas portugueses, vê com bons olhos a introdução das vacinas contra o HPV no plano nacional.
A partir do próximo ano, o Estado vai vacinar as raparigas com 13 anos, que são à volta de 50 mil, e para tal vai gastar 15 milhões de euros, refere. Se forem prevenidos 70% dos cancros nessas 50 mil jovens poupar-se-á mais do que seria gasto em tratamentos.
Afirmando que o ideal seria que Portugal fosse um país muito rico e que todas as mulheres entre os 9 e os 26 anos fossem vacinadas, o médico defende que o esquema apresentado recentemente pelo Ministério da Saúde "é um dos mais avançados da Europa" em termos de saúde pública.
Dentro de 20 ou 30 anos, José Moutinho acredita que o cancro do colo do útero será uma doença residual no nosso país desde que a população visada cumpra com o esquema vacinal apresentado pelo Governo e que o Estado implemente, a curto ou médio prazo, um rastreio organizado que fomente uma alta taxa de participação. "Teoricamente, as expectativas são as melhores", defende. Os resultados só serão visíveis a longo prazo.
1% das portuguesas já estão vacinadas
Apesar da comparticipação só acontecer no próximo ano e do elevado custo de ambas as vacinas contra o vírus do Papiloma Humano - HPV (entre os 400 e os 500 euros as três doses recomendadas), 1% das mulheres portugueses foram vacinadas este ano.
José Moutinho explica que os estudos científicos realizados neste âmbito concluem que "a vacina é tanto mais eficaz quanto mais cedo for administrada na vida da mulher".
As balizas temporais para a administração do medicamento estão actualmente entre os 9 e os 26 anos e está comprovado que mesmo que a mulher tenha já iniciado a actividade sexual a vacina também é eficaz.
Embora alguns especialistas mundiais admitam que as inoculações podem criar Anticorpos + para o HPV até a mulher atingir os 50 anos ou mais, nada está comprovado nesse sentido. José Moutinho admite porém acreditar que mulheres mais velhas, dependendo da sua história clínica e estado de saúde, podem também beneficiar da vacina.
"Uma mulher que seja tratada a uma displasia grave do colo e que fique sem doença ao fim de um ano, provavelmente beneficia da vacina, mas neste caso é a doente que tem de decidir se compra ou não o medicamento", acrescenta.
A.L.C.
Fonte: DN