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segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

QUANDO O CANCRO É QUASE CERTO MAIS A VONTADE DE VIVER É MAIOR

E se tivesse quase a certeza que ia ter cancro, só não soubesse quando? E se o pudesse evitar? O que faria? Cecília sabia que tinha risco superior a 80% de ter cancro da mama e, após quatro anos a fazer exames de vigilância de seis em seis meses, tomou a decisão tirar os seus seios saudáveis para "fintar" a doença que tinha escrita no seu mapa genético.
Em Fevereiro optou por fazer mastectomia preventiva e, em Maio, foi operada no Instituto Português de Oncologia + (IPO) de Lisboa, onde há sete anos é seguida na consulta de risco familiar de cancro da mama.
"Não estou minimamente arrependida", assegura ao JN com esperança no futuro. "Também podemos ir numa estrada, sermos atropelados e morrer. Mas isso não podemos prevenir. Temos que jogar com as cartas que temos à frente e eu tinha o risco à frente".
Mãe e irmã
Apesar de nunca ter tido cancro, está é uma doença que Cecília conhece bem, é a razão por que ficou permaturamente sem a mãe e a irmã, em 2000. "Morreram as duas de cancro. A minha mãe de cancro no ovário (63 anos) e a minha irmã de um segundo cancro da mama (37 anos)", conta. "A minha irmã, do primeiro para o segundo cancro foram sete anos. Mas, desde o diagnóstico do segundo, teve um ano de vida. Foi muito rápido".
É nesta altura que Cecília chega à consulta de risco familiar de cancro da mama do IPO. "Foram feitos testes para ver se havia alteração genética familiar, a partir de uma colheita de sangue da minha irmã", explica. Dois anos e meio depois soube que tinha uma mutação no gene BRCA1. Tinha então 36 anos e uma elevada probabilidade de ter cancro do ovário antes dos 40.
Perante a proposta para ser operada como meio de prevenção, concordou. Tirou os ovários (ooforectomia) e o útero (histerectomia), uma vez que o cancro do ovário é mais fatal e porque assim reduziu para metade o risco de cancro da mama (80%). "Estava determinada. Era Agosto, ia iniciar um curso em Outubro e perguntei se podia ser em Setembro", recorda. Cecília, casada e com dois filhos, admite que a situação da mãe e irmã terão contribuído para a sua decisão e diz que regressar às aulas para concluir a licenciatura em Enfermagem também foi uma motivação.
Quatro anos a vigiar
Seguiram-se quatro anos a fazer Mamografia + s de seis em seis meses e ressonâncias magnéticas anuais para vigiar uma eventual manifestação de cancro. Para tentar "apanhá-lo" precocemente. Mas cada vez que fazia os exames ouvia "Você esteve cá há seis meses, é parva? Se tem tudo normal porque é que vem? Acha que é preciso andar a gastar dinheiro a fazer exames?
"A última ressonância foi em Janeiro. A agressividade e incompreensão aliadas ao Stress + e Ansiedade + quanto aos resultados de cada exame foram decisivos para avançar para a mastectomia preventiva. "Isso da operação ao peito, como é que é?", questionou, na consulta de risco.
Em Maio, Cecília foi operada - removeu os dois peitos e fez reconstrução. "Disse ao chefe da Cirurgia plástica + que não queria um peito maior, mas mais pequeno também não que já tinha soutiens deste tamanho", diz entre risos. E lembra o pós-operatório "complicado ao nível da dor e Mobilidade + . Para abrir uma torneira tinha de ser com as duas mãos e fazia uma força!".
Confessa que esta foi uma decisão muito sua, mas que teve o apoio do marido. Entre as colegas de trabalho com quem partilhou a decisão ouviu elogios à sua coragem. "Apostei na prevenção, assim sei que posso continuar a cuidar dos meus filhos", salienta.
Com o alívio de que os dois rapazes não herdaram a sua Mutação genética + , a preocupação recai na sobrinha, filha da irmã. "Quanto tiver 23/24 anos fará a análise. Temos quase a certeza que ela é positiva".
Fonte: JN