Ana Gerschenfeld
Não é caso para começar a ir à praia sem protector ou a frequentar os solários. Mas a questão coloca-se: será que, apesar de a exposição ao sol ser a principal causa dos cancros da pele, ela é globalmente benéfica para a saúde? É o que sugere, prudentemente, um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences + .
Johan Moan, da Universidade de Oslo, na Noruega, e colegas do Departamento da Energia (DOE) dos EUA, afirmam que a Radiação solar + protege contra os efeitos letais de cancros internos e de outras doenças - neurológicas, cardiovasculares, imunitárias e ósseas. E que, nas populações com deficiências de Vitamina D + , apanhar sol pode prolongar a vida... Apesar dos riscos acrescidos de cancro da pele.
A conclusão parece herética após tantos anos de campanhas contra os malefícios dos raios Ultravioleta + s. No entanto, um dos autores do estudo, Richard Setlow, é uma autoridade mundial. A sua equipa foi a primeira a demonstrar que os UVA e a luz visível são as principais causas do melanoma maligno, a forma mais mortal de cancro da pele.
A vitamina D é produzida pelas células cutâneas sobretudo devido à acção de outros raios, os UVB; não há pílula de óleo de Fígado + de Bacalhau + que se lhes compare. Agora, os cientistas estimaram, com um modelo matemático, os níveis de vitamina D em função da latitude, em populações com o mesmo tipo de pele.
Constataram assim que na Austrália, país subequatorial, a produção de vitamina D era 3,4 vezes maior do que no Reino Unido e 4,8 vezes maior do que na Escandinávia. "Há um claro gradiente norte-sul na produção de vitamina D, com as pessoas nas latitudes nórdicas a produzirem bastante menos do que as perto do Equador", diz Setlow, num Comunicado + do DOE.
Quando se olha para a incidência dos cancros da pele, o gradiente inverte-se: quanto mais a sul, maior o número de casos. Mais: o mesmo acontece com os cancros do cólon, pulmão, mama, próstata.
Então, onde está o suposto benefício dos banhos de sol? Quando olharam para as taxas de sobrevivência, a situação alterou-se: as pessoas das latitudes austrais apresentavam menos riscos de morrerem desses cancros internos do que as das latitudes setentrionais.
"Talvez devêssemos fabricar protectores que não bloqueiem tanto os UVB", diz Setlow. Isto poderá levar a um aumento dos cancros da pele - mas esses, diz, são facilmente curáveis e de mortalidade muito baixa, se comparada com a dos cancros internos.
Fonte: Público