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quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

UMA MUDANÇA DE PARADIGMA NA FISIOTERAPIA ESPECIALIZADA PARA A DOENÇA DE PARKINSON

Uma mudança de paradigma na Fisioterapia + especializada para a doença de Parkinson
O
Envelhecimento + populacional trouxe um aumento da incidência de doenças neurodegenerativas e, entre elas, destaca-se a doença de Parkinson. De facto, a DP encontra-se hoje em dia no patamar das Doenças neurológicas + degenerativas com maior impacto negativo ao nível da funcionalidade dos indivíduos. Em Portugal, embora não existam dados estatísticos exactos da DP, estima-se que a doença afecte entre 15 a 20 mil indivíduos (Associação Portuguesa dos doentes de Parkinson, 2004).
Os sinais neurológicos, as diversas desordens de movimento e os problemas ao nível motor, traduzem-se nestes pacientes em dificuldades progressivas do seu desempenho funcional, ao nível das actividades da vida diária (AVD’s), transferências, equilíbrio e marcha (Morris, 2000), podendo resultar numa diminuição da sua funcionalidade, mas também na sua participação social e qualidade de vida (Schrag, Jahanshahi, Quinn, 2000; Riazzi, Hobart, Lamping, Fitzpatrick, Freeman, Jenkinson e Peto, 2003). Os benefícios da fisioterapia e de formas gerais de exercício em doentes de Parkinson têm sido reconhecido ao longo de vários anos (De Goed, et al., 2001; Formisano et al., 1992).
A fisioterapia surge para complementar o tratamento medicamentoso, uma vez que as disfunções do movimento estão no centro da patologia de Parkinson. De facto, problemas como a marcha, postura, equilíbrio e transferências tendem a não responder tão bem à medicação como a acinésia, o tremor e a rigidez. Para além disso, com a progressão da doença, os efeitos da medicação tornam-se cada vez menos satisfatórios (Graziano, 2004). Deste modo, a fisioterapia vai permitir o desaceleramento do ritmo de progressão da doença e a conservação da autonomia do utente durante mais tempo, de modo a que ele possa disfrutar de uma melhor qualidade de vida.
Contudo, a abordagem tradicional da fisioterapia para o doente de Parkinson tem vindo a centrar-se no treino de estratégias compensatórias para dar resposta às deficiências que ocorrem nos gânglios da base, no cérebro (por exemplo: ensino de balanceamento dos membros superiores, dar passos largos, pontapé na bengala, etc.) (Morris, 2000). Consequentemente, o esforço físico exigido nos tratamentos tem variado entre baixo a moderado. O objectivo da fisioterapia, em geral, tem sido maximizar e conservar as capacidades funcionais do doente, evitando ou reduzindo o aparecimento de complicações secundárias. Esta abordagem da fisioterapia parte do pressuposto que no caso de um processo neurodegenerativo, tal como ocorre na doença de Parkinson, não existe potencial para uma recuperação neurológica (Fisher, 2005). Este pressuposto tem sido posto em causa com base nos últimos estudos realizados em animais com a doença de Parkinson, onde se verificou uma recuperação funcional e neurológica com um programa intensivo de reabilitação (Fisher; Petzinger, et al, 2004). Um dos avanços mais significativos na neurologia nos últimos 15 anos tem sido o reconhecimento de uma maior capacidade de recuperação do cérebro após lesão, ao invés do que se pensava anteriormente. Actualmente é reconhecido que o cérebro tem a capacidade de se reorganizar (neuroplasticidade) após uma lesão ou doença, e que este fenómeno pode ser facilitado por meio de um complexo e intenso treino de capacidades físicas (Fisher, 2005). Hirsch et al (2003) demonstrou que a força muscular e o equilíbrio podem ser melhorados em doentes de Parkinson com um treino intensivo de resistência e equilíbrio, durante dez semanas (três vezes por semana). Apesar de os objectivos da fisioterapia continuarem a incluir o alivio de sintomas, melhoria da função, o aumento da força, a tolerância ao esforço e o equilíbrio, existe agora um interesse crescente em determinar e compreender os efeitos do exercício/treino sobre a neuroplasticidade, afim de serem definidas novas modalidades terapêuticas não farmacológicas que possam promover a recuperação e atrasar ou reverter a progressão da doença de Parkinson.
Fonte: Ciência Hoje