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segunda-feira, 7 de abril de 2008

ACOMPANHADA DE SINTOMAS DE RINITE, CONJUNTIVITE ALÉRGICA : FORMA MAIS COMUM DE ALERGIA OCULAR



Sofia Filipe




A forma mais comum de alergia ocular não raras vezes se faz acompanhar de sintomas nasais de rinite e manifesta-se, sobretudo, por «olho vermelho».



«A alergia ocular consiste numa doença inflamatória da superfície ocular externa, frequentemente recorrente, apresentando--se geralmente por sinais e sintomas agudos, bilaterais, de prurido, por vezes sensação de ardência (queimor), lacrimejo, fotofobia, hiperemia (olho vermelho) e quemose (edema da conjuntiva). Nalgumas formas de alergia ocular há envolvimento palpebral com edema e reacção papilar na sua superfície interior (tarsal)», refere o Prof. Luís Delgado, imunoalergologista, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, vice-presidente da SPAIC – Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica



A alergia ocular manifesta-se por «olho vermelho», sendo uma apresentação clínica muito frequente, que causa mais de 60% das prescrições tópicas oftalmológicas.




Luís Delgado é autor, em conjunto com o Dr. Jorge Palmares, chefe de Serviço de Oftalmologia do Hospital de S. João, no Porto, do livro Alergia Ocular. 25 Perguntas sobre Diagnóstico e Tratamento. E, no que diz respeito ao «olho vermelho», esclarece que «quando recidiva pode ser devido a alergia (geralmente prurido e lacrimejo), olho seco (ardência com sensação de “areia” e poucas lágrimas) ou querato-uveíte (dor e visão turva)».







Conjuntivite alérgica
e medicamentosa



Em mais de 50% dos casos, a conjuntivite alérgica é a forma mais comum de alergia ocular, sendo muitas vezes acompanhada por sintomas nasais de rinite (rinoconjuntivite alérgica).


Nas formas sazonais da Primavera é, normalmente, provocada por pólenes das gramíneas, oliveira e parietária. Nas formas persistentes (perenes), é causada pelos ácaros do pó da casa e pelos epitélios de animais domésticos, por exemplo, o gato .


«Já a “conjuntivite medicamentosa” (queratoconjuntivite tóxica) surge pelo uso repetido de medicação ocular tópica e toxicidade ou sensibilização aos seus constituintes, geralmente os conservantes», observa Luís Delgado, salientando que «os conservantes utilizados nos colírios oftálmicos (cloreto de benzalcónio, timerosal) são a principal causa».


A pele fina das pálpebras é também particularmente susceptível a reacções de alergia de contacto. Por isso, além dos constituintes e conservantes dos tópicos oculares, vários produtos de cosmética podem também estar envolvidos.


De acordo com o autor de Alergia Ocular. 25 Perguntas sobre Diagnóstico e Tratamento, «curiosamente, não são os de uso directo nos olhos que colocam mais problemas de diagnóstico. Os cosméticos aplicados no cabelo, na face ou nas unhas podem ser inadvertidamente transferidos para os olhos, provocando sensibilização, por vezes, sem qualquer sintoma no ponto de origem, onde a epiderme é mais espessa».


As armações dos óculos, as respectivas dobradiças e parafusos metálicos, assim como instrumentos de cosmética ocular (eyeliners), podem originar eczema de contacto periorbitário em doentes sensibilizados ao níquel, por exemplo.




Evitar ácaros e pólenes


Se a prevenção da alergia de contacto a um objecto ou produto passa por simplesmente evitar o dito contacto, o mesmo não se poderá dizer em relação a outros alergénios, como os pólenes ou os ácaros.



Tal como acontece com outras manifestações alérgicas, previne-se o desencadear ou agravamento da alergia ocular através de medidas de evicção.


É fundamental evitar a acumulação de pó na casa e a proliferação de ácaros nos quartos, nos casos de conjuntivite alérgica persistente ou queratoconjuntivite atópica, quando existe IgE específica para os ácaros do pó da casa e uma relação clínica com os sintomas (agravamento nocturno e/ou ao levantar e no Outono/Inverno).


«Os ácaros domésticos (Dermatophagoides pteronyssinus e Dermatophagoides farinae) são a principal fonte alergénica do pó da casa, alimentando-se das escamas que continuamente se libertam da pele humana e de certos bolores», menciona Luís Delgado, acrescentando:


«O seu crescimento é facilitado pelo calor e, sobretudo, pela humidade. Daí que seja no quarto de dormir – na roupa da cama, nas almofadas, cobertores e, sobretudo, nos colchões – que eles existem em maior abundância e, particularmente, a partir de Outubro e durante todo o Inverno.»


Como não poderia deixar de ser, nas conjuntivites alérgicas com sensibilização aos pólenes e agravamento sazonal interessa diminuir a exposição àqueles alergénios.


No nosso País, a época polínica inicia-se em fins de Fevereiro/Março (pólenes de árvores), tem um pico máximo em Maio/
/Junho (gramíneas) e termina em Julho, por vezes, um pouco mais tarde (parietária).


Deste modo, durante este período, «deve evitar-se caminhar em grandes espaços relvados ou cortar relva, andar na rua nos dias de vento forte, em dias quentes e secos e nas primeiras horas da manhã, pois, são alturas em que há maior polinização», aconselha o especialista, apontando outras medidas preventivas a ter durante a época polínica:


«Na Primavera, é também de evitar andar de moto ou bicicleta, praticar campismo, caça ou pesca. Deve-se viajar com as janelas do carro, autocarro ou comboio fechadas e usar óculos escuros de protecção quando se anda na rua, com 100% de filtração ultravioleta!»




Soluções terapêuticas



O uso de medicamentos tópicos no local da reacção alérgica é, hoje, uma das principais estratégias terapêuticas, pois os efeitos são rápidos e há uma diminuição dos eventuais efeitos sistémicos.



«Os agentes farmacológicos desenvolvidos mais recentemente para uso tópico ocular têm múltiplos mecanismos de acção. É o caso dos fármacos de dupla acção – anti-histamínicos de acção rápida e com efeito estabilizador dos mastócitos – que são usados de uma forma mais cómoda (duas vezes por dia) e eficaz», avança Luís Delgado, acrescentando:



«Alguns estudos recentes demonstram também que a aplicação de tópicos oculares pode melhorar os sintomas nasais da rinite, mas não vice-versa.»



E continua: «No entanto, a coexistência de uma rinite aumenta as queixas do doente, diminui a sua qualidade de vida e mantém uma inflamação local, que pode favorecer a penetração do alergénio. Assim, os anti-histamínicos orais não sedativos podem melhorar também os sintomas conjuntivais quando estes se associam à rinite e poderão ser utilizados em tratamento único, em formas ligeiras e intermitentes.»



Os corticosteróides tópicos são também muito eficazes na alergia ocular, dado suprimirem múltiplos passos da reacção inflamatória.



Todavia, Luís Delgado adverte que «por se associarem ao atraso na cicatrização do epitélio corneano, aumento da tensão intra-ocular (glaucoma), formação de catarata e imunossupressão local, com consequente risco de sobreinfecção da córnea e da conjuntiva, a sua utilização deve ser cuidadosa, por períodos curtos e monitorizada por oftalmologistas».





A prevalência




Ainda não existem informações epidemiológicas precisas sobre as conjuntivites alérgicas, quer a nível nacional, quer a nível internacional. Muitas vezes, os sintomas referidos em diversos inquéritos estão associados a perguntas que têm a ver com outras manifestações alérgicas, como a rinite.



No entanto, alguns dados referentes a outras manifestações clínicas da alergia permitem ter uma ideia da evolução epidemiológica provável das conjuntivites alérgicas.


Segundo Luís Delgado, «pelo menos 15% da população europeia com menos de 30 anos tem rinite. A prevalência em Portugal, para a rinite, é de cerca de 10% na população adulta e, pelo menos, 20% nas crianças; para a rinoconjuntivite, os dados dos inquéritos realizados na população infantil (ISAAC) correspondem a cerca de metade da prevalência de rinite, portanto entre 8 a 13%».




Quando a conjuntivite
não é alérgica...



Perante uma conjuntivite, resta ao clínico definir se é alérgica ou infecciosa.


«Na conjuntivite infecciosa (bacteriana ou vírica) predominam as secreções seromucosas e formação de crostas matinais em contraste com a lágrima límpida e o prurido da alergia», elucida o imunoalergologista, prosseguindo:


«Em contraste com a alergia ocular, bilateral, com frequência as conjuntivites infecciosas são assimétricas, associando-se a sintomas de recente infecção respiratória alta e, nas víricas, a adenopatias pré-auriculares ou submandibulares.»


«Na suspeita de conjuntivite alérgica raramente é necessário pedir exames laboratoriais numa primeira aproximação, pois os elementos da história clínica e do exame oftalmológico são os mais determinantes para o diagnóstico», aponta o vice-presidente da SPAIC.


Contudo, numa conjuntivite alérgica persistente ou recidivante, são importantes os testes cutâneos e/ou a quantificação sérica da IgE específica, nomeadamente para revelar o(s) alergénio(s) implicado(s).







Fonte: Medicina & Saúde®