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quarta-feira, 2 de abril de 2008

DA VACINA AO TRANSPLANTE: AS DOENÇAS DO FÍGADO PODEM DESENVOLVER-SE SEM SINTOMAS



Prof. Rui Tato Marinho



Uma das características das doenças do fígado é que podem desenvolver-se sem qualquer sintoma. Os exames complementares – laboratoriais e de imagem – são assim indispensáveis. Medicamentos para as hepatites são eficazes.



O fígado é o nosso maior órgão, pesando cerca de 1,5 quilos. Localiza-se à direita, na parte superior do abdómen, por baixo das costelas.


Tem múltiplas funções. Há quem diga cerca de cinco mil: produção de proteínas, armazenamento de vitaminas, reserva energética, síntese de gorduras, eliminação de produtos tóxicos, digestão dos alimentos, defesa contra agentes (bactérias e vírus), etc. A vida é incompatível sem fígado.


Nos últimos 40 anos, o avanço tecnológico da medicina, a par da intensa actividade dos médicos, permitiu que o conhecimento das doenças do fígado tivesse um assinalável progresso.


Os avanços mais marcantes nas últimas décadas, no que diz respeito às doenças do fígado, foi a descoberta dos vírus das hepatites A, B, C, D e E. Destas, as que se podem tornar crónicas e provocar cirrose são a B, C e D (esta última, com reduzido significado actual, aparece sempre associada à hepatite B). Os vírus das hepatites B e C são carcinogénicos podendo facilitar o aparecimento do cancro primitivo do fígado (carcinoma hepatocelular ou hepatoma). Segundo a Organização Mundial de Saúde, o vírus da hepatite B é o segundo carcinogénico mais importante a seguir ao tabaco.


Produziu-se a vacina da hepatite B que tem salvo milhares de vidas, e a vacina da hepatite A.


Existem de momento medicamentos eficazes para tratar as duas hepatites que se tornam crónicas. A hepatite C consegue curar-se em 60 por cento dos casos. A hepatite B é praticamente impossível de curar quando se torna crónica, mas pode ser controlável, impedindo a sua progressão, com vários medicamentos.




Transplante de fígado


Outro dos grandes avanços foi o transplante hepático, disponível em Portugal desde há quinze anos. Os resultados são semelhantes às boas equipas estrangeiras e fazem-se em Portugal cerca de 200 por ano. Cerca de 70 a 80 por cento dos doentes transplantados estão vivos ao fim de dez anos, o que não seria possível sem terem efectuado o transplante. O transplante hepático permitiu também alguma hipótese de cura aos doentes com hepatoma, caso seja detectado cedo, habitualmente por ecografia abdominal.


A doença do fígado que mais mata em Portugal é a cirrose alcoólica. Na Europa, é a cirrose por hepatite C. A nível mundial, a cirrose por hepatite B.


A cirrose é um estado de destruição do fígado em que existe morte das suas células, aparecimento de cicatrizes (fibrose), alteração da sua estrutura e mais tarde perturbação grave das suas funções. Pode surgir icterícia (olhos amarelos), ascite (barriga de água), alterações mentais (encefalopatia), rotura de varizes do esófago, o cancro do fígado (hepatoma), entre outros.


Uma das características das doenças do fígado é que se podem desenvolver sem qualquer sintoma. Ou seja, pode existir cirrose hepática sem qualquer tipo de queixa.


Por isso, hoje em dia, o estudo das doenças do fígado é fortemente apoiado em exames complementares indispensáveis e indissociáveis do médico para o diagnóstico e tratamento das doenças do fígado, como sejam, os múltiplos e variados exames laboratoriais (análises ao sangue), bem como os exames de imagem (Ecografia, TAC, Ressonância Magnética Nuclear).




Prof. Rui Tato Marinho


Presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado






Fonte: Jornal do Centro de Saúde