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sábado, 3 de maio de 2008

SURDEZ NO IDOSO É FISIOLÓGICA - OUVIDO É O PRIMEIRO ORGÃO A DETERIORAR-SE




Carla Silva Pereira


O ouvido humano envelhece, tal como a pele ou os olhos envelhecem e o cabelo branqueia. A surdez do idoso não é patológica, é fisiológica, a que se dá o nome de presbiacúsia. Só que numas pessoas ocorre mais precocemente do que noutras e isso deve-se, sobretudo, ao tipo de vida que se leva.



«Se a pessoa vive exposta a ruído ou se tem patologia otológica na evolução da sua vida pode ensurdecer mais precocemente», diz o Dr. Vasco Ribeiro, otorrinolaringologista.


A audição, através do aparelho auditivo, forma-se no embrião humano muito cedo. O ouvido é o primeiro órgão a funcionar – ao fim de três meses de gestação –, mas é também o primeiro órgão a entrar em deterioração, dado que, fisiologicamente, a audição perde-se a partir de determinada idade.


No fundo, a surdez é o esgotamento metabólico da célula sensorial da audição. «Nós ouvimos através das células ditas sensoriais, que estão localizadas no ouvido interno, mas essas entram em falência e morrem porque não têm o alimento, ou seja, o oxigénio que chega através das artérias», pormenoriza o especialista.

É que as artérias, ao sofrerem processos de esclerose ou de arteriosclerose, enrijam e não levam o sangue em quantidade suficiente ao ouvido interno, que, sendo pouco vascularizado, acaba por receber pouco oxigénio.


«Embora a surdez surja sempre, é óbvio que não nos devemos expor ao grande inimigo da audição, o ruído. E as pessoas com doenças do ouvido devem estar mais atentas quando chegam a esse grupo etário», refere Vasco Ribeiro.




A surdez tem solução


A surdez é uma anomalia que provoca alterações de humor, irritabilidade fácil e frequente ou desconfiança. As pessoas que padecem desta patologia perdem-se no silêncio, isolam-se e, muitas vezes, recusam qualquer tipo de apoio. O doente tem mais dificuldade em comunicar e em adaptar-se.


«O idoso acaba por vir à consulta acompanhado da família porque se perdeu um pouco na inutilidade e na inoperância de qualquer acto terapêutico. É errado pensar que a surdez não tem cura ou que é da velhice porque tem sempre o recurso à prótese auditiva», afirma, com veemência, Vasco Ribeiro.


Acrescenta, ainda, que «o idoso deve procurar reagir às suas insuficiências enquanto a Medicina for capaz de lhe suprir as mesmas através de tratamentos médicos ou das próteses auditivas que, hoje, estão muito sofisticadas e têm óptimos resultados numa readaptação social e na melhoria da qualidade de vida».


Curioso é que a reacção à prótese auditiva é muito variável. Segundo o nosso interlocutor, «há pessoas que continuam a recusar as próteses, por muito boas que sejam, por uma questão de vaidade e, nos dias de hoje, a maior parte delas não tem qualquer fio exterior, porque são aplicadas dentro do canal auditivo».


Talvez porque se sintam incapacitados, daí o trabalho do audioprotesista ser crucial. «Deve ser uma pessoa muito competente, capaz de proceder a uma adaptação protésica eficaz», frisa o otorrinolaringologista.


Vasco Ribeiro considera ponto de honra alertar os idosos para as campanhas publicitárias de venda de próteses auditivas que, em seu entender, devem ser sempre submetidas a prescrição pelo médico especialista.


E deixa o alerta: «A prótese não deve ser adaptada indevidamente, deve ser indicada de acordo com o nível de surdez, com os exames e o estudo que se faz à pessoa e ainda deve ser testada tecnicamente. Tenho recusado aparelhos auditivos a doentes que não têm necessidade de os pôr mas que já vinham com eles colocados».




Cera pode ser um obstáculo à transmissão do som


Sabia que um rolhão de cerúmen (cera acumulada) pode provocar quedas auditivas entre 30 a 40 decibéis?


Vasco Ribeiro explica que «a cera é um fenómeno fisiológico com a importante função de fixar partículas estranhas – extraídas posteriormente para não prejudicar o ouvido –, mas que quando transformada no tal rolhão pode ser um obstáculo à transmissão do som através do canal auditivo. Já tive casos de pessoas que julgavam estar a ficar surdas e que quando foi retirado o rolhão de cerúmen voltaram a ouvir normalmente».


As pessoas com mais tendência para formar cera são as que transpiram muito e as que têm uma higiene exagerada, aquelas que usam as cotonetes para limpar o ouvido.


«As cotonetes vão eliminando a possibilidade de formação de pelinhos que ajudam a cera a sair, havendo assim uma acumulação de cera a longo prazo», esclarece o especialista.


Por outro lado, a própria constituição anatómica do canal auditivo e as características da pele do canal também podem contribuir para a formação de cera em demasia. Vasco Ribeiro considera que nunca é demais sublinhar que é «sempre aconselhável uma consulta ao especialista de

otorrinolaringologia em caso de perturbação auditiva».





Fonte: Medicina & Saúde