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domingo, 12 de outubro de 2008

INCONTINÊNCIA URINÁRIA NO IDOSO


Dr. Francisco Rolo


A incontinência no idoso é um problema frequente e muitas vezes negligenciado quer pela própria pessoa, por pensar tratar-se de uma inevitabilidade do avançar da idade, quer pelos profissionais de saúde ou familiares, que lidam diariamente com idosos e não estão sensibilizados para esta situação.





Atinge entre 15 a 30% da população ambulatória e 35 a 50% da população internada em instituições de saúde. A idade não é contudo o único factor que contribui para a incontinência. Mais de 50% dos idosos com mais de 80 anos são continentes.




Com a idade surgem naturalmente alterações que por si só não provocam incontinência mas podem predispor para ela. Podem ser tão simples como a diminuição da mobilidade, a qual, associada a uma dificuldade em retardar a micção - urgência miccional - relativamente frequente no idoso, impede que a pessoa se desloque até à casa de banho a tempo.




Com a idade perde-se também a destreza manual e o simples acto de desapertar os botões das calças pode tornar-se numa complicada e morosa tarefa. A bexiga do idoso perde algumas propriedades tornando-se frequentemente hiperactiva, isto é, obriga a micções mais frequentes, de pequeno volume e acompanhadas de urgência miccional.




Existem factores mais complicados como as alterações do estado mental, em que o grau de consciência se vai deteriorando, começando por poder causar uma falta de motivação até chegar à completa perda do controlo voluntário da micção.




Um factor importante, até porque pode ser contornado, é a acção de alguns medicamentos, nomeadamente os depressores do sistema nervoso central, como os ansiolíticos ou os indutores do sono, que podem logicamente tornar o idoso menos reactivo ao ponto de não se aperceber da vontade de urinar.




Com o avançar da idade são também muito frequentes, quer no homem como na mulher, as micções nocturnas. São várias as causas desta situação que designamos por noctúria.




Em condições normais os rins não produzem urina durante o sono graças à secreção de uma hormona (hormona anti-diurética), mas com a idade ou por interacção de algumas doenças como a obstrução causada pelo aumento da próstata, infecções urinárias, a insuficiência cardíaca, a diabetes, entre outras, esta situação altera-se e as pessoas idosas têm que se levantar 2 ou 3 vezes durante a noite.




Se tiverem tomado comprimidos para dormir têm mais dificuldade em despertar para urinar. Se tiverem dificuldades na mobilidade, na destreza manual, na visão, as perdas urinárias podem facilmente acontecer.




A incontinência acarreta, além de custos elevados, uma série de complicações de ordem psíquica. Leva a sentimentos de embaraço, ao auto isolamento porque têm receio que se note o cheiro da urina, ajuda a desencadear depressões e pode até constituir um motivo para a institucionalização. Provocam além disso irritação da pele e agravam as escaras de decúbito.







Existem outras causas capazes de produzir incontinência no idoso mas estas são em nosso entender as que devem ser do domínio público pois são passíveis de ser corrigidas com pequenas acções.




O tratamento desta situação implica pois uma cuidada avaliação de factores como os que foram referenciados. Podemos começar por medidas práticas que facilitem a acessibilidade do idoso.




Tentar motivá-lo para se mobilizar proporcionando facilidades em se levantar para ir à casa de banho ou colocando um urinol a seu lado. Tentar melhorar estados confusionais que podem estar ligados a medicação. Alguns sedativos têm acção muito prolongada e por um efeito de acumulação deprimem demais o estado de consciência do idoso, deixando-o demasiado sonolento ou mesmo confuso.




Por vezes tenta-se "aligeirar" a última refeição do dia só à custa de líquidos e ou fruta o que irá aumentar a necessidade de urinar durante a noite o que não é prático nem para o idoso nem para quem o assiste.




Por fim pode haver necessidade de recorrer às fraldas e à algaliação (sempre o último recurso).




São alguns exemplos que podem ajudar mas na maioria das situações é necessária apurar as causas com uma cuidada observação médica.








Dr. Francisco Rolo,

Presidente da Associação Portuguesa de Urologia e

Chefe de Serviço de Urologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra








Fonte: Saúde em Revista