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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

QUANDO A VISÃO SE VAI "APAGANDO"



Dr. Jorge Breda


O glaucoma é uma doença ocular que se caracteriza pela morte progressiva das fibras do nervo óptico. Por esta razão, verifica-se uma dificuldade em transportar para o sistema nervoso central as informações que chegam ao olho e que se destinam a ser percebidas como imagens.





Como é sabido, o globo ocular comporta-se como uma máquina fotográfica: tem uma lente, formada pela córnea e pelo cristalino, que foca a luz na retina. Aí, tal como na máquina fotográfica, a luz desencadeia fenómenos químicos que, por sua vez, geram diferentes correntes eléctricas. Estas correntes são transportadas até ao cérebro - onde vão ser "processadas" e "reveladas" como imagens - por uma espécie de "cabo coaxial", que é o nervo óptico.




Percebe-se, portanto, que, se o nervo óptico perder parte das suas fibras nervosas, há informação que não chega ao seu destino. Logo: a qualidade e a quantidade de visão diminuem. No glaucoma esta diminuição, por incrível que pareça, não dá sintomas, porque as pessoas vão-se adaptando e não consciencializam a perda no seu dia-a-dia. É parecido com o envelhecimento: hoje estamos mais velhos do que ontem, mas não notamos.




As células vão morrendo, o campo de visão vai empobrecendo, a sensibilidade ao contraste vai alterando e não se dá por nada. Calcula-se que, mesmo quando aparecem os primeiros defeitos no campo visual, já houve perda de cerca de 40% das fibras do nervo óptico, sem tal ser percebido pelo doente.








Glaucoma não é hipertensão ocular




A tensão ocular alta é um importante factor de risco, mas não é tudo. Sabe-se que quem tiver uma tensão ocular de 27mm de hg tem 50% de hipóteses de desenvolver glaucoma e que quem tiver uma tensão de 23mm de hg tem essas hipóteses reduzidas para 10%. Mas há pessoas com uma tensão ocular considerada normal, por exemplo 16mm de hg, que mesmo assim desenvolvem morte celular no nervo óptico e, portanto, glaucoma.




Há, então, outros factores que conduzem a uma má perfusão sanguínea do nervo óptico, e, por conseguinte, a danos graves no seu metabolismo. São eles a hipotensão sistémica diastólica, que ocorre durante a noite em certos indivíduos, as alterações vasculares provocadas pela hipertensão sistémica de longa duração, a diabetes e a miopia elevada.




A forma anatómica da cabeça do nervo óptico dentro do globo ocular, a história familiar, a idade (mais frequente a partir dos 40 anos), a raça (mais frequente na raça negra) são também factores de risco importantes.




É preciso, por isso, prevenir a morte celular, porque, uma vez ocorrida, esta é irreversível. Nessa altura, o tratamento limita-se a tentar adiar o mais possível o declínio das fibras nervosas sobrantes, de forma a preservar a visão existente nesse momento. O ideal será fazer o diagnóstico antes de haver sintomas. Para isso é preciso observar regularmente as pessoas que têm os factores de risco enunciados, sobretudo os que têm antecedentes na família ou que ultrapassaram os 40 anos.




Somente o oftalmologista o pode fazer, porque ao examinar o globo ocular sabe detectar sinais muito precoces, que são prenúncio de glaucoma. Por isso os oftalmologistas aproveitam as consultas de rotina de pessoas que se queixam de um olho vermelho, de má visão para perto ou para longe corrigível com simples óculos, para observar todo o globo e, em seguida, fazer exames sofisticados para confirmar o diagnóstico, se houver suspeitas.






Devolver a visão




O tratamento pode ser médico (instilação de gotas), cirúrgico ou com laser. O seu objectivo é baixar a pressão ocular, de tal modo que o fluxo sanguíneo chegue mais facilmente ao nervo óptico. Os medicamentos actuam diminuindo a produção do humor aquoso ou facilitando a sua saída do globo ocular. A cirurgia procura criar novos e alternativos canais de drenagem.




E o laser procura facilitar o escoamento alargando o sistema existente. Todos têm a sua indicação, variando de pessoa para pessoa. É importante que o doente adira ao tratamento. Os medicamentos são altamente comparticipados, precisamente porque esta doença cega. Mesmo assim, calcula-se que um terço dos pacientes, mesmo devidamente informados, não faz a terapêutica com regularidade, porque não têm sintomas e, portanto, não sentem necessidade de o fazer.



Fonte: Jornal do Centro de Saúde