Dr. Luiz Cortez Pinto
A Doença de Alzheimer está, na maioria dos casos, relacionada com o envelhecimento. O aumento do número de situações diagnosticadas é, por isso, uma consequência directa do actual sucesso da Medicina em prolongar a vida.
Embora a maioria dos idosos consigam manter uma razoável saúde mental e física, a Doença de Alzheimer torna-se mais frequente, nas pessoas muito idosas [com mais de 85 anos].
A Doença de Alzheimer (DA) é uma perturbação progressiva com manifestações clínicas bem definidas e comuns em todos os doentes, embora haja variações na idade de início e padrão de progressão da doença. É característica da DA a perda de neurónios colinérgicos e o achado no córtex cerebral de grande número de Placas Amilóides associadas a Novelos Neurofibrilhares.
Até ao início da década de 80 o diagnóstico de DA era sobretudo por exclusão. Ou seja, considerava-se a existência de DA após serem excluídas as causas diagnosticáveis para outro tipo de perturbações cognitivas, nomeadamente: alterações metabólicas e nutricionais, situações tóxicas, doenças infecciosas, vasculares e outras.
Actualmente, considera-se que o diagnóstico da DA deve ser principalmente um diagnóstico de inclusão, podendo em 80 por cento dos casos ser feito pela avaliação clínica psiquiátrica.
O diagnóstico deve ser apoiado numa observação psiquiátrica cuidada e rigorosa utilização de escalas de avaliação neuropsicológica, associadas a critérios de diagnóstico bem definidos. A utilização de exames imagiológicos avançados e de marcadores periféricos específicos, detectáveis por análises clínicas, ainda se restringe à investigação.
É normal, com o avançar dos anos, uma demora maior em adquirir novas informações e recordar acontecimentos anteriormente experimentados. Por outro lado, alguns doentes deprimidos, têm queixas subjectivas de dificuldades de memória que podem dificultar o diagnóstico. É por isso importante fazer o diagnóstico em indivíduos com mais de 65 anos que se queixem de dificuldades de memória, distinguindo as situações que podem ser atribuídas a envelhecimento normal e o início de Doença de Alzheimer.
Não sendo, no presente, possível fazer a prevenção do envelhecimento, é no entanto possível intervir em certas situações patológicas associadas à idade, através de estímulo para hábitos de vida saudáveis, preparação para a 3ª idade e vigilância médica regular.
Está comprovado que o treino das funções mentais e físicas aumenta a longevidade e a qualidade de vida, devendo tanto quanto possível evitar-se que a passagem à reforma signifique uma diminuição da actividade. Existem ainda perturbações de memória, como as de causa vascular, que podem ser prevenidas e em alguns casos tratadas.
O tratamento farmacológico actual da DA recai nos inibidores da colinestrase, (donepezil, rivastigmina e galantamina) e nos Antagonistas NMDA (memantina). Estes fármacos permitem, durante um período de tempo variável, melhorar ou diminuir a progressão da doença. Encontram-se em fase avançada de investigação, fármacos que poderão reverter os prejuízos da DA como a Vacina - amilóide, e os Inibidores da Secretase.
Embora a evolução da doença seja irreversível, a medicação permite, quase sempre, melhorar a qualidade de vida destes doentes, podendo assim adiar ou evitar a institucionalização, motivo porque o diagnóstico precoce tem aspectos clínicos práticos.
É sobre os cuidadores, quase sempre cônjuges ou filhos, que recai a pesadíssima tarefa de apoiar estes doentes, motivo porque o cuidador é muitas vezes chamado a "vítima escondida" da Doença de Alzheimer.
É minha opinião, que a existência de um diagnóstico preciso permitirá apoiar, de forma mais efectiva, os doentes e seus familiares, prevenindo o desgaste precoce do cuidador, com os consequentes benefícios para o doente.
A DA pode ser definida em termos operacionais como um prejuízo permanente das funções intelectuais, com compromisso variável das seguintes esferas da actividade mental: linguagem, memória, emoção, personalidade e cognição.
Verifica-se também perda progressiva da capacidade funcional, tendo o doente dificuldade para as tarefas da vida diária como higiene, banho ou alimentação tornando-se cada vez mais dependente de terceiros.
Dr. Luiz Cortez Pinto,
Presidente da Associação Portuguesa
de Gerontopsiquiatria
Fonte: Saúde em Revista