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segunda-feira, 6 de abril de 2009

SÍNDROME PRÉ-MENSTRUAL: PORQUE ANDAM AS MULHERES IRRITADAS?




Daniela Gonçalves





A síndrome pré-menstrual é uma dor de cabeça mensal para muitas mulheres. Irritabilidade, tensão mamária e abdominal são o rosto mais visível do problema, cujas causas ainda não são totalmente conhecidas. A toma da pílula e o seguimento de um estilo de vida saudável podem ser aliados da mulher no combate à síndrome pré-menstrual. Mas, para melhor tratar, é fundamental perguntar-lhe o que sente.








A síndrome pré-menstrual evidencia-se pelo surgimento de "um conjunto de sinais e sintomas que têm carácter cíclico: precedem a menstruação uma semana ou dias e desaparecem espontaneamente, para voltar no ciclo seguinte", explica Daniel Pereira da Silva, director do Serviço de Ginecologia do Instituto Português de Oncologia de Coimbra.





Perturbações físicas, comportamentais e psíquicas são os principais sintomas da SPM (síndrome pré-menstrual), com maior prevalência da tensão mamária e abdominal e da irritabilidade, de

acordo com o especialista. Acrescenta que são comuns também outros sintomas, na sua maioria, psíquicos, como "a labilidade emocional (mudança súbita de humor), tendência depressiva, aumento da ansiedade e cefaleia (dor de cabeça)".







Com menor frequência, pode observar-se em algumas mulheres, sintomas mais preocupantes, do ponto de vista clínico e que se traduzem pela ocorrência de "insónias, perturbações visuais, fobias alimentares, depressão profunda e comportamentos disfóricos", caracterizando-se estes últimos por um mal-estar (depressivo) e agitação nervosa.





As perturbações comportamentais disfóricas são pouco frequentes e significativas em Portugal, realidade que não se concilia com o retrato traçado pela literatura
americana neste domínio. Daniel Pereira da Silva sublinha ainda que os sintomas mais recorrentes da síndrome pré-menstrual "acompanham a menstruação e não se manifestam durante a gravidez ou após a menopausa".











Causas desconhecidas







Ainda não são totalmente conhecidos os factores que provocam a síndrome pré-menstrual. Parece, no entanto, haver uma relação desta síndrome com a progesterona resultante da ovulação, explica Daniel Pereira da Silva. Mas a sua acção não é isolada.





Existe, ainda, o factor predisposição individual, eventualmente ligado à hereditariedade. "Há uma susceptibilidade individual que parece decorrer de influência familiar." A obesidade e o sedentarismo podem, também, contribuir para o surgimento da síndrome pré-menstrual, sendo esta "mais frequente nas mulheres jovens obesas e que praticam menos exercício físico", acrescenta.





Apesar de não se conhecerem ao certo as causas da síndrome pré-menstrual, a prática clínica e a investigação nesta área têm apontado os benefícios de um tratamento centrado em quatro dimensões: técnicas de relaxamento, aumento da actividade física, ingestão de magnésio e toma de contraceptivos orais (pílula).





Daniel Pereira da Silva, realça, no entanto, que "o uso dos contraceptivos orais são citados na literatura, mas não há consenso quanto à sua validade", muito embora "as pílulas com drosperinona terem alguns ensaios onde demonstram uma eficácia muito interessante."




É possível tratar






Os resultados da investigação e a prática clínica deste especialista ajudam-nos a ter uma visão optimista face tratamento à base da toma da pílula. "A minha experiência também vai nesse sentido, mas cada vez mais faço uso das pílulas de baixa dosagem em uso contínuo." Cita, igualmente, os benefícios da conjugação das técnicas de gestão de stresse com o aumento da actividade física. E dá o exemplo da prática da natação, referindo que "parece ter alguma vantagem, desde que seja do interesse da mulher".





A alimentação saudável pode ser outra ferramenta importante para, pelo menos, evitar o aumento dos sintomas da síndrome pré-menstrual. A ingestão de alimentos estimulantes como bebidas alcoólicas, chá, café e chocolate, não está de todo recomendada.





Banir da ementa refeições pesadas é fundamental para não agudizar a síndrome pré-menstrual, daí que seja "importante dar atenção aos excessos alimentares, que são frequentes nas mulheres com este tipo de sintomas", justifica o director do serviço de ginecologia do IPO de Coimbra.





"Às vezes, as mulheres desvalorizam os sintomas, porque consideram normal ter certas perturbações resultantes da menstruação, o que dificulta o tratamento." E deste ponto de vista o especialista diz que o papel do clínico passa por esclarecer todas as dúvidas e tabus da síndrome pré-menstrual. Sempre que esta perturbação tenha um impacto "na qualidade de vida da mulher, no seu rendimento escolar ou profissional".









O que dizem os estudos?







Os resultados dos estudos mais recentes realçam a necessidade de inquirir a mulher sobre o tipo de sintomas pré-menstruais que apresentam e procurar o melhor tratamento para os combater. As recentes investigações têm colocado a tónica no papel positivo da pílula no alívio dos sintomas pré-menstruais.





O director do serviço de ginecologia do IPO de Coimbra indica que "na literatura mais recente, encontram-se alguns trabalhos que mostram bons resultados com as pílulas com drosperinona." Estes resultados têm tido, segundo explica, uma aplicação bem sucedida na prática clínica.





Assim, "à semelhança da contracepção, o recurso à pílula afigura-se uma boa escolha para atenuar os sintomas da síndrome pré-menstrual". Outra opção "é prescrever uma pílula de baixa dosagem de forma contínua, sem pausas, durante três ou mais ciclos".









SPM em números





Cerca de 30% das mulheres é afectada pelos sintomas mais comuns (tensão mamária e abdominal), refere o especialista, muito embora saliente que a estimativa quanto ao número e/ou percentagem de mulheres que sofrem de síndrome pré-menstrual - entendida na sua globalidade - dependa dos parâmetros considerados.









A obesidade e o sedentarismo parecem contribuir para o surgimento da síndrome pré-menstrual, embora seja mais frequente em mulheres jovens que praticam menos exercício físico





A alimentação saudável pode ser outra ferramenta importante para, pelo menos, evitar o aumento dos sintomas da síndrome pré-menstrual





"Às vezes, as mulheres desvalorizam os sintomas, porque consideram normal ter certas

perturbações resultantes da menstruação, o que dificulta o tratamento", Daniel Pereira da Silva









Fonte: Jornal do Centro de Saúde