É a que acontece na puberdade e adolescência: uma nova fase da vida repleta de transformações a nível físico, psicológico e social. O corpo ganha os contornos do género, criam-se novos vínculos afectivos, desenvolvem-se novos interesses, afirmam-se atitudes e busca-se a independência. No meio, anda-se um pouco à deriva, entre o mundo da infância e o dos adultos. Crescer é assim.
Não há crescimento sem mudança. E a primeira das grandes mudanças acontece com a puberdade, o momento em que, biologicamente, se evidenciam as diferenças de género: a criança vai desaparecendo para dar lugar a um homem ou a uma mulher. Este corte com a infância é reforçado pelo emergir de uma nova forma de ver a vida e de estar na vida: a adolescência, etapa que marca, psicológica e socialmente, a transição para a idade adulta.
São anos conturbados os da puberdade e adolescência. As mudanças são, a qualquer dos níveis em que ocorrem, perturbadoras.
Desde logo, porque o corpo está a mudar, gerando sentimentos contraditórios. Pode acontecer que o adolescente se sinta bem com os novos contornos, mas pode igualmente sentir-se desconfortável, não se reconhecendo na figura que o "olha" do espelho.
Não admira que assim seja. A "culpa" é das hormonas. O corpo das raparigas ganha peso e altura, as ancas alargam-se e arredondam-se, os seios desenvolvem-se e começam a crescer os pêlos púbicos, a pele fica mais oleosa e as glândulas sudoríparas tornam-se mais activas.
Até que acontece a primeira menstruação - a menarca, que oficialmente marca o início da puberdade e, com ela, da capacidade reprodutiva.
Também os rapazes ficam mais altos e mais fortes. Os ombros e o peito alargam-se, os músculos desenvolvem-se, o pénis e os testículos crescem, começando a produzir esperma, e surgem os pêlos púbicos.
À medida que o tempo passa, a voz vai ficando mais grossa, ainda que, de quando em vez, se libertem sons agudos, muito distintivos.
No peito, podem irromper alguns pêlos e os dos braços e pernas ficam mais fortes. As glândulas sudoríparas entram em acção.
E as primeiras ejaculações (os chamados sonhos molhados) surpreendem na noite. Perante tantas mudanças, é natural que o adolescente se questione. O tempo é de descobertas e expectativas, de dúvidas e angústias.
É que com a feminilidade e a masculinidade fisiológica, raparigas e rapazes vão tomando consciência de si próprios como seres sexuais e sexuados. Despertam, pois, para a sexualidade. E para sensações como o desejo e o prazer.
As emoções são então vividas com intensidade única. E as primeiras paixões, os primeiros amores arrebatadores e eternos, lançando os adolescentes numa montanha russa de oportunidades e riscos.
Emerge uma grande vontade de amar e ser amado, de ser respeitado, de fazer boa figura perante os pares. Procuram-se os caminhos para satisfazer essa vontade, mas o percurso é cheio de pressões e influências, gerando dúvidas e receios. Quando dar o passo? O "passo" é o da primeira experiência sexual, uma aventura que pode ser fantástica mas que deve ser motivada por opiniões amadurecidas, reflectidas, não empurrada pelo exemplo de outros.
O que importa é fazer escolhas saudáveis. Com liberdade para pensar, ouvir e decidir, para mudar de opinião, para dizer sim e para dizer não.
Pode ser difícil, mas é necessário, porque os rumos tomados na adolescência podem ter reflexos por toda a vida futura.
A sexualidade é natural, mas implica responsabilidade. É fonte de prazer, mas também uma porta aberta para riscos: como o de uma doença sexualmente transmissível ou o de uma gravidez não desejada. É que não acontece só aos outros...
O amor não basta: é preciso conhecer o próprio corpo, saber como funciona; é preciso esclarecer dúvidas e obter informação junto de fontes credíveis (as consultas para adolescentes nos centros de saúde, as linhas telefónicas de apoio, o médico ou o farmacêutico); é preciso evitar os riscos.
Trata-se de tomar decisões. Escutar os próprios sentimentos e desejos, respeitar e ser respeitado. Resistindo a pressões ou a chantagens emocionais, sem se deixar encurralar num beco sem saída. Dizendo não se, somados todos os prós e contras, sobrarem dúvidas. Ou dizendo sim se tiver chegado o momento.
Ser adolescente é conquistar a autonomia, mas não a todo o preço. É fazer escolhas informadas, saudáveis e livres.
Conflito de gerações
Faz parte da adolescência o duelo com os pais que é conhecido como conflito de gerações. De repente, os pais deixam de ser heróis, deixam de ser elogiados como os melhores ou os mais "fixes", deixam de saber tudo. De repente, passam a ser adultos de que se quer distância, com quem se passa cada vez menos tempo, com quem se têm embates diários em busca de uma nova identidade individual e social.
Para um adolescente, torna-se complicado partilhar espaços e actividades com osprogenitores e outros adultos.
Dificilmente aceita as suas ideias, as suas propostas, mas isso não impede que se sinta incompreendido.
O adolescente procura criar o seu próprio espaço, tem as suas próprias ideias, pensa que sabe tudo, desenvolve outras relações e outros interesses.
Tudo muda: do corpo aos afectos, passando pelos gostos. É uma vida em construção. Uma etapa que todos os pais receiam. Mas que passa. Com mais ou menos turbulência, mas passa!
Fonte: FARMÁCIA SAÚDE - ANF