Diz o ditado que "de pequenino se torce o pepino" e, no que toca à alimentação, não há dúvidas: é na infância que se aprende a comer de uma forma saudável, adquirindo hábitos que perduram pela vida.
Entre as crianças e os adultos não são muitas as diferenças nas necessidades nutricionais. Ainda que em quantidades e proporções diferentes, as crianças precisam, tal como os mais velhos, de todos os nutrientes, dos hidratos de carbono às proteínas, das vitaminas aos minerais, passando pelos lípidos (gorduras).
A maior das diferenças reside no facto de as crianças passarem por surtos de rápido crescimento, o que influencia as exigências nutricionais. Além disso, como têm poucas reservas, carecem de um aporte nutritivo adequado a um desenvolvimento harmonioso.
Não há fórmulas, mas há consensos em matéria das necessidades de cada faixa etária, com o número de calorias diárias a oscilar em função da idade, do ritmo de crescimento e do nível de actividade.
Assim, dos dois aos três anos, uma criança precisa de 1000 a 1400 calorias, seja rapaz ou rapariga. Já dos quatro aos oito, essa necessidade aumenta para 1200 a 1800, para o sexo feminino, e para 1400 a 2000, para o masculino.
E dos nove aos treze, elas precisam de 1600 a 2200 calorias e eles de 1800 a 2600. Sabendo que a alimentação ajuda as crianças a crescerem saudáveis, é óbvio que todos os pais desejam que os filhos comam de uma forma correcta, o que é sinónimo de equilíbrio e diversidade. Não é, no entanto, uma tarefa fácil e são do conhecimento comum as verdadeiras "guerras" que se instalam na família em volta das refeições.
Dar o exemplo é meio caminho andado para incutir hábitos saudáveis: na infância, os adultos são o modelo que as crianças seguem, pelo que importa enviar-lhes a mensagem correcta. Se os pais comem vegetais e frutas, se são moderados nos doces, fritos e salgados, o mais provável é que os filhos os imitem. Mas se os pais rejeitam a sopa ou a salada dificilmente conseguirão que os filhos as apreciem.
Ainda no domínio dos exemplos, também conta a relação que os adultos mantêm com a comida: se ela for positiva, a ideia será assimilada pelas crianças. É o que acontece quando os pais gostam de experimentar sabores e texturas novas, quando sentem prazer por estar à mesa e partilhar uma refeição.
Aliás, o estar à mesa é um ritual importante, ainda que nem sempre fácil de concretizar no dia-a-dia. As refeições em família constituem uma forma saudável de comer, pois permitem apreciar os alimentos e potenciam o convívio.
As refeições funcionam igualmente como uma rotina, implicando regras e horários próprios para comer. Deste modo atenua-se o risco de petiscar nos intervalos e, com ele, o de ingerir alimentos altamente calóricos mas pouco nutritivos. Aliás, a quantidade destes alimentos disponível em casa deve ser mínima, assim se evitando conflitos entre pais e filhos.
Os alimentos não devem sequer constituir fonte de conflito. Os pais, ainda que lhes caiba orientar o tipo de alimentação dos filhos e estabelecer normas saudáveis, devem permitir-lhes algum controlo: não é errado, do ponto de vista educacional, dar-lhes a escolher entre várias alternativas, não significando isto que são os mais pequenos a decidir o que comem. É a excepção a reforçar a regra.
Entre os alimentos e as emoções existe uma ligação perigosa. Não só porque são, por vezes, utilizados como compensação - as próprias crianças aprendem a dizer que têm fome quando não sabem lidar com sensações como o aborrecimento e a tristeza - mas também porque os pais os usam como castigo ou recompensa - o que é frequente com os doces. Fazê-lo estimula nas crianças uma ideia falsa sobre os alimentos, sem a desejada contrapartida no comportamento.
Na realidade, as boas decisões sobre o futuro dos filhos passam também pela alimentação. Os hábitos que adquirirem na infância perdurarão muito provavelmente.
Fonte: FARMÁCIA SAÚDE - ANF