Mário Beja Santos
O sistema digestivo é particularmente propício a perturbações (infecções, inflamações, distúrbios digestivos, do trânsito intestinal...), sendo numerosas as situações de queixa que levam os doentes a procurar aconselhamento na farmácia.
Basta pensar na higiene oral, onde se incluem as doenças ligeiras da boca; nos problemas gástricos, como é o caso da azia, náuseas, vómitos e enjoo; passando para os males ligeiros do intestino.
O farmacêutico é ainda confrontado com o pedido de medicamentos sem receita médica ou informações no que toca a diarreia, obstipação ou males menores relacionados com hemorróidas. Desse vasto conjunto de situações, escolhemos a saúde oral e as doenças ligeiras da boca, os problemas gástricos e o uso dos laxantes como casos que comprovam que devemos ser exigentes com a excelência do aconselhamento farmacêutico.
Boa saúde oral, como actuar nas doenças ligeiras da boca
Há doenças e medicamentos que fragilizam a saúde oral, podendo o farmacêutico constituir uma fonte de informação e orientação. O farmacêutico, além de estar bem posicionado para orientar os seus utentes quanto a dentífricos mais adequados a cada situação, pode aconselhar noutras regras da boa higiene oral como seja a forma correcta de escovagem dos dentes, a sua frequência, a selecção da escova a utilizar ou os produtos recomendáveis em situações específicas.
Os utentes têm toda a vantagem quando abordam o seu farmacêutico em procurar expor com clareza o estado de saúde da sua boca, como seja: se os seus dentes são sensíveis a variações de temperatura (para o quente e para o frio), se as suas gengivas sangram com facilidade, qual é a periodicidade das suas idas ao dentista e se existem doenças crónicas que obriguem à toma de medicamentos e quais (é o caso da epilepsia, diabetes e asma).
Nas doenças ligeiras da boca sabe-se que há pessoas que desenvolvem pequenas lesões ou inflamações, como é o caso das estomatites e as gengivites. A estomatite vulgar é uma inflamação da boca que pode afectar a mucosa interior das bochechas, a língua, o céu da boca e as gengivas. Aparece com intensidade variável, com vermelhidão e dor, podendo apresentar-se com o aspecto de uma úlcera.
O farmacêutico pode vir a ser chamado a intervir no tratamento das aftas, mas há situações mais graves em que a prescrição médica é indispensável. As gengivites são inflamações (agudas ou crónicas) das gengivas, com vermelhidão e inchaço podendo apresentar pontos hemorrágicos.
Não é raro a gengivite ser acompanhada de estomatite. Nestes casos, o tratamento passa por uma boa higiene buco-dental, realizada após a ingestão de alimentos. Podem ainda realizar-se bochechos com anti-sépticos e outros produtos.
Saber distinguir as indisposições gástricas
Quando as queixas digestivas, particularmente do estômago, são ocasionais e muitas vezes associadas a excessos alimentares, é recomendado o recurso à indicação farmacêutica. Estes males digestivos são de diferente natureza, manifestando-se por dores, náuseas, vómitos, azia, arrotos e digestões difíceis.
Falando da azia, as situações mais ligeiras podem ser aliviadas com a toma de antiácidos que, ao diminuírem a acidez do estômago, abrandam a sensação de ardor e a agressividade sobre o esófago. Os antiácidos podem também trazer alívio na gastrite (uma inflamação do estômago) e na úlcera gástrica (sempre que as dores persistirem, é imprescindível o diagnóstico médico).
Dado que os antiácidos podem ser adquiridos sem receita médica, para alívio destes mal-estares ocasionais convém conhecê-los um pouco melhor, uma vez que nenhum deles é inofensivo.
Ao dialogar com o farmacêutico ficará a saber que: o efeito de um antiácido é, regra geral, mais prolongado se for tomado uma a duas horas após uma refeição; os antiácidos têm composições diferentes e, por conseguinte, efeitos secundários e contra-indicações específicas; os antiácidos podem interferir com outros tratamentos, ao diminuírem o efeito da terapêutica que o doente está a fazer (um exemplo desta situação é o que pode ocorrer com alguns antibióticos, que em associação com antiácidos podem ter a sua acção diminuída, mantendo-se a infecção) - por este motivo recomenda-se que a toma de antiácidos ocorra duas horas antes ou uma hora depois da toma de outros medicamentos.
Cuidados com os laxantes
Dentro dos medicamentos que podem ocasionar a prisão de ventre destacam-se os antiácidos, medicamentos para as cólicas, anticonvulsivantes, alguns antidepressivos, analgésicos, entre outros, e também os próprios laxantes, cujo abuso pode originar um quadro de prisão de ventre.
A preocupação a ter com o uso dos laxantes é particularmente importante em crianças, idosos, grávidas e mulheres a amamentar. As crianças e os idosos são muito sensíveis à desidratação e à perda de sais minerais que os laxantes podem provocar se forem potentes, não se recomendando, por isso, laxantes irritantes.
É preciso dar particular atenção à composição de laxantes para crianças e não se deixar sugestionar pelo nome comercial que pode dar lugar a enganos por se fazer menção a um produto natural - os produtos à base de plantas também podem originar efeitos adversos e, por vezes, não são recomendados (o utente deve ler sempre a composição do laxante).
Na grávida, os laxantes expansores do volume fecal são os mais indicados. Uma mulher a amamentar deve ter uma precaução redobrada com os laxantes que toma, porque alguns são eliminados pelo leite e provocam diarreia no bebé.
Não é demais insistir que a necessidade de recorrer aos laxantes seria evitável, na grande maioria dos casos, se as pessoas adoptassem bons hábitos alimentares e estilos de vida mais saudáveis e que estão ao alcance de todos.
Também aqui o aconselhamento farmacêutico poderá revelar-se do maior interesse. É nesse diálogo que se fica a compreender porque é que não se devem tomar laxantes de ânimo leve, qual a alimentação mais adequada para melhorar a prisão de ventre e como identificar as causas.
Nesse diálogo, caso esteja a tomar medicamentos, pergunte ao seu farmacêutico se algum deles pode ser responsável pela prisão de ventre. E, por último, informe o seu farmacêutico sobre outros sintomas que acompanham a sua prisão de ventre, como, por exemplo, dores abdominais ou vómitos, já que estes podem ser motivos para uma consulta médica.
A propósito, não insista na toma de laxantes que requerem receita médica. Como se vê, nas situações de pequena gravidade do sistema digestivo há tudo a ganhar em saber usar e abusar do aconselhamento farmacêutico.
Fonte: FARMÁCIA SAÚDE - ANF