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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

ENCOPRESE: FUGAS EMBARAÇOSAS



É embaraço o que sentem as crianças que sofrem de encoprese: uma resistência aos movimentos naturais dos intestinos que leva a que fezes se escapem acidentalmente. É involuntário e acontece mais aos rapazes do que às raparigas.

Acontece com alguma frequência em crianças com mais de quatro anos, ou seja, em crianças que já aprenderam a controlar as fezes e que já são autónomas nas idas à casa de banho. E não se sabe porquê, mas acontece mais aos rapazes do que às raparigas. O que se verifica é que estas crianças sujam a roupa interior de uma forma involuntária e em momentos inapropriados. Sabem que não o devem fazer mas não conseguem evitá-lo: é assim a encoprese, que se define como a passagem repetida involuntária de fezes, em lugares não apropriados para esse fim, pelo menos 6 meses, numa criança com idade cronológica e mental mínima de 4 anos.

Não se trata de uma doença, mas de um sintoma, quase sempre associado à obstipação (prisão de ventre). Quando uma criança sofre de obstipação, as fezes são duras e secas, causando dor na evacuação.

E precisamente para evitar a dor a criança adia ao máximo a ida à casa de banho: está aberto caminho a um dos acidentes que caracterizam a encoprese.

Vejamos como tudo se passa. A consistência das fezes é influenciada por factores como a alimentação (pobre em fibras), a escassa ingestão de líquidos (sobretudo água). Há ainda que considerar factores comporta mentais, como a relutância em utilizar instalações sanitárias públicas: uma criança que frequente a escola pode não querer partilhar a casa de banho com os colegas e, em consequência, reter as fezes até chegar a casa.

Causas à parte, as fezes acumulam-se no intestino, dando início a um ciclo vicioso. Quanto mais tempo as fezes ali permanecerem mais água lhes vai sendo retirada, o que as seca e endurece. E quanto mais duras mais difícil é a passagem até à expulsão pelo ânus. Ao contrariar o trânsito intestinal, as fezes vão-se aculumulando e vai-se enfraquecendo os músculos do intestino, o que afecta os nervos que, habitualmente, dão sinal à criança (e ao adulto) de que está na hora de ir à casa de banho. Ora, se os músculos estão relaxados, é necessário um esforço acrescido para defecar, o que causa dor. E a criança continua a evitar a ida à casa de banho...

Chega uma altura em que a porção inferior do intestino está tão cheia que o esfíncter - a válvula que controla a passagem das fezes para o ânus - cede. O resultado: a criança suja as cuecas. Pode acontecer também que fezes mais líquidas escorram através da massa que se acumula no intestino, escapando-se quando o esfíncter relaxa. O resultado é o mesmo. E não há nada que a criança possa fazer. Aliás, o mais provável é que nem se aperceba, pois os nervos não estão a enviar os sinais que regulam a defecação.

Para os pais, estes acidentes são, muitas vezes, encarados como uma consequência da preguiça infantil em ir à casa de banho quando sente necessidade. Ou considerados um problema comportamental. Mas não são nem uma coisa nem outra. São mesmo acidentais e escapam ao controlo da criança. E porque podem acontecer em qualquer altura são fonte de grande desconforto, de embaraço e até de baixa auto-estima.

Tempo e paciência

A boa notícia é que a encoprese se trata. Mas deve despistar-se uma possível causa orgânica da obstipação.

O primeiro passo do tratamento é, normalmente, esvaziar o intestino, o que se consegue com recurso a medicamentos que ajudam a amolecer as fezes e facilitam a sua expulsão. É importante ter em atenção que o controlo da dor é um factor chave de sucesso, dado que só depois de a criança verificar que, depois de defecar várias vezes, não existe dor, é que o círculo vicioso se conseguirá quebrar.

O segundo passo envolve como que a reeducação da criança no sentido de usar a casa de banho com regularidade: é importante estabelecer uma rotina, por exemplo, duas vezes por dia a seguir às principais refeições - este hábito fará com que a criança volte a dar atenção às suas necessidades fisiológicas. À medida que for sendo bem sucedida, a medicação será reajustada, até que deixará de ser preciso tomá-la.

É natural que ao longo deste percurso haja um ou outro acidente, mas há que ser paciente. Até porque ultrapassar a encoprese leva tempo: podem ser necessários vários meses ou mesmo um ano para que o intestino regresse ao seu tamanho normal e para que os nervos envolvidos voltem a estar activos.

Até lá, é importante que a criança tenha uma alimentação rica em fibras, essenciais para prevenir a prisão de ventre: legumes e frutas frescas são os principais ingredientes dessa dieta, mas frutos secos como uvas e ameixas, feijões e cereais integrais também são bons. E há que complementar esta dieta com a ingestão de água em abundância. O sucesso do tratamento passa também pelo apoio dado à criança.


Primeiro, ela não deve ser culpada ou punida por estes acidentes, pois não são intencionais. Depois, há que incentivá-la pelo esforço e pelos progressos. Com o tempo e compreensão, ela superará este incómodo problema.



Fonte: FARMÁCIA SAÚDE - ANF