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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

SONO E SAÚDE MENTAL: COMO PREVENIR A INSÓNIA?


Daniela Gonçalves

A insónia atinge cerca de 30 a 40 por cento da população portuguesa e pode ter vários efeitos nocivos na saúde, sendo responsável, por exemplo, pelo surgimento de doenças do foro psiquiátrico. Na entrevista que concedeu à Executive Health & Wellness, Teresa Paiva, directora do Centro de Electroencefalografia e Neurofisiologia Clínica e coordenadora do Mestrado em Ciências do Sono, aponta as causas mais comuns e as vias para ultrapassá-la.

A privação crónica do sono em pessoas normais pode originar oscilações de humor, principalmente, aumento de irritabilidade. A ansiedade e as alterações cognitivas (efeitos de concentração e memória) são outros dos efeitos de noites mal dormidas, explica Teresa Paiva, neurologista, Segundo a especialista, o efeito mais conhecido é o cognitivo, em particular a dificuldade de desempenho e de memória. Estas lacunas têm especial impacto nas faixas etárias juvenis, considerando os efeitos da privação de sono no rendimento escolar. Quem dorme menos de seis horas diárias, ou mais de nove, tem um risco acrescido de sofrer de hipertensão, obesidade, depressão, cancro, diabetes, doenças cárdio e cérebrovasculares.

Insónia ou insónias?

É diagnosticada uma insónia se ela persistir após três meses. Podem ser várias as causas desta doença, ou entidade clínica. "É um erro falar-se numa insónia, pois há vários tipos e, consequentemente, abordagens diferentes", frisa Teresa Paiva. Uma insónia pode derivarde problemas de stress no trabalho e, neste caso, há que colocar em prática o princípio dobem-estar global. "Para trabalhar muito e aguentarem o stress, as pessoas têm que estar em boas condições físicas e mentais, caso contrário, não conseguirão dar o seu melhor".

De acordo com a especialista, um indivíduo que trabalhe um número substancial de horas deve ter mais cuidados, nomeadamente cumprir certas regras, nomeadamente a manutenção de hábitos regulares de sono, o seguimento de uma dieta saudável e a prática de exercício físico. "O sono não deve ser restringido, não se deve comer muito à noite, não se devem falhar refeições, preferencialmente as quatro recomendadas, deve-se comer sentado e parar para o efeito", recomenda Teresa Paiva. Porque o stress é um inimigo a abater, importa manter uma atitude positiva perante os obstáculos e problemas, ou seja, "a pessoa deve relativizá-los e pensar que, a seguir, à tempestade, vem a bonança", recomenda. Acrescenta que "um dos aliados do stress é a desvalorização do que acontece de positivo e a valorização do que é negativo".

Insónia e a sua relação com a instabilidade de humor

Associado à privação de sono está o maior risco de desenvolvimento de insónia, uma entidade clínica preocupante. "As pessoas que começam a dormir menos horas do que precisam, durante muito tempo - por exemplo, quatro ou cinco horas - vão desenvolver mesmo um quadro de insónia e deixam de dormir", explica a neurologista. Outro dos aspectos relevantes é que há, de facto, oscilações de humor de acordo com os ritmos biológicos, nomeadamente condicionados pelas estações do ano.

Teresa Paiva afirma que "os períodos de menor luminosidade ambiente se encontram relacionados com a emergência de oscilações de humor em pessoas saudáveis e em pacientes com depressão ou outro tipo de doença psiquiátrica".

Acrescenta que, normalmente, os indivíduos apresentam um humor mais eufórico no Verão e mais depressivo no Inverno, com consequências, por exemplo, ao nível do comportamento na condução em vários países: há mais acidentes rodoviários no Verão do que no Inverno. Portugal é excepção, frisa a especialista e ainda não se entende a razão para a inversão da tendência.


Doenças da mente e insónia

Teresa Paiva alerta para o facto de a insónia e a depressão serem doenças comórbidas. "Uma insónia mantida por mais de três meses tem um risco aumentado de depressão e esta provoca um risco aumentado de insónia". Aliás, "a maior parte das doenças psiquiátricas gera alterações de sono". Sublinha, no entanto, que curar uma depressão não significa necessariamente vencer a insónia, sendo o inverso verdadeiro igualmente. É verdade que uma está na base do surgimento da outra, embora a sua evolução clínica possa ser distinta, reforça.

"Não estão assim co-relacionadas. Esta noção é recente, mas tem imensa relevância clínica, pois a insónia é, de facto, uma entidade clínica independente da depressão e que passa a persistir, mesmo quando é tratada a depressão".

Acrescenta que a depressão maior, a doença bipolar e a esquizofrenia geram, frequentemente, perturbações no sono, até porque há uma relação muito estreita entre as doenças psiquiátricas e as doenças do sono. "A maior parte das depressões gera insónia, mas algumas, contudo, provocam hipersónia, ou seja, muitas horas de sono", refere.


Tratamento da insónia

Aferir qual a origem da insónia é o ponto de partida para prescrever o melhor tratamento, até porque as causas podem variar muito. Em caso de necessidade, "faz sentido recomendar-se a administração de medicamentos, porque claro que é melhor a pessoa dormir do que não dormir". Ressalva, no entanto, que a maioria dos fármacos usados tem riscos de habituação memória. "Daí que tenha que haver muita precaução na prescrição destes medicamentos, devendo ser escolhidos muito criteriosamente", sublinha Teresa Paiva. E, em alguns casos de insónia, é mais indicado recomendar um tratamento cognitivo-comportamental do que farmacológico, havendo evidência científica de uma elevada taxa de sucesso a este nível, remata.

Porque razão o sono é tão importante?

O sono é regulado no tronco cerebral (os neurónios que o regulam estão localizados nesta área) que tem uma relação muito importante com o hipotálamo, onde se encontra uma série de núcleos ou estruturas cruciais que regulam o sono-vigília e nos ajudam a adaptar ao dia e à noite. Regulam a temperatura, o humor, as funções sexuais e a actividade alimentar.



Fonte: Health & Wellness