Dr. J. Garcia e Costa e Dr. A. Galvão Teles
As hormonas tiroideias são sintetizadas pela tiroideia, órgão de pequenas dimensões, situado na face anterior e inferior do pescoço.
São indispensáveis níveis normais de hormonas tiroideias no sangue para que todo o nosso metabolismo funcione correctamente.
As hormonas tiroideias exercem uma acção fundamental em quase todos os órgãos e sistemas do nosso organismo, pelo que o seu excesso ou a sua diminuição em circulação provoca uma grande variedade de sintomas que podem ser de maior ou menor gravidade.
As doenças da tiroideia são muito frequentes. Podemos dividi-las, de uma forma simplista, em doenças em que existe alteração dos níveis sanguíneos de hormonas tiroideias (se aumento: tireotoxicose com ou sem hipertiroidismo e se diminuição: hipotiroidismo) e as doenças em que há alteração da morfologia da tiroideia: bócios (aumento de volume da tiroideia) ou nódulos.
Nas situações de disfunção tiroideia a sintomatologia é habitualmente muito exuberante e altera gravemente a qualidade de vida do doente. É importante fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento para impedir o aparecimento de complicações que podem ser graves.
No entanto, há situações subclínicas, arrastadas, em que a sintomatologia é escassa ou ausente mas que necessitam também de tratamento devido à sua evolução para situações de maior gravidade ou para o aparecimento de complicações, nomeadamente cardiovasculares.
Tireotoxicose
A tireotoxicose (excesso de hormonas tiroideias em circulação) pode ser provocada pela hiperfunção da tiroideia (hipertiroidismo) ou não. A causa mais frequente destas situações, sem hiperfunção da tiroideia mas com excesso de hormonas tiroideias em circulação, é a ingestão de hormonas tiroideias, muitas vezes prescritas erradamente, em situações não comprovadas cientificamente, como seja nas tentativas de emagrecimento, provocando elevados riscos para a saúde.
Noutras situações, existe indicação para o tratamento com hormonas tiroideias, que quando fornecidas em doses elevadas levam a um excesso de hormonas tiroideias em circulação. A dose, nestes casos, necessita de ajustamento após determinação laboratorial da função tiroideia.
As causas mais frequentes de hipertiroidismo são a doença de Graves (doença autoimune), os bócios tóxicos (nódulos da tiroideia hiperfuncionantes) e as tiroidites (processos inflamatórios da tiroideia). Em todos estes casos há uma hiperfunção da tiroideia com valores elevados de hormonas tiroideias em circulação (T3 e T4 livres) e diminuição da hormona tireotrófica (TSH). Na doença de Graves e na maior parte das tiroidites, devido à sua etiologia autoimune, os anticorpos antitiroideus são positivos, habitualmente com titulações elevadas.
A sintomatologia inclui cansaço e diminuição da força muscular que podem ser muito marcados, emagrecimento mas com o apetite mantido, palpitações devido ao aumento da frequência cardíaca (taquicardia), sudação, tremores, alterações emocionais (irritabilidade, ansiedade, depressão), aumento do número de dejecções, alterações menstruais, prurido e outras queixas menos frequentes. Pode existir ou não aumento de volume da tiroideia (bócio). O aumento dos enzimas hepáticos (transaminases) pode ser devido a um hipertiroidismo.
Na doença de Graves pode haver alterações oculares com protusão dos globos oculares e processo inflamatório local. Nos casos menos graves as pessoas referem apenas prurido ocular (sensação de areia nos olhos) e apresentam olhar fixo devido a uma retracção das pálpebras superiores. Esta doença atinge preferencialmente mulheres (8 vezes mais que nos homens) com idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos.
As tireotoxicoses devem ser avaliadas por médicos com experiência nestas doenças, devido à variabilidade de apresentação, evolução e tratamento.
Hipotiroidismo
No hipotiroidismo (diminuição das hormonas tiroideias em circulação) a causa habitual também é a doença autoimune (anticorpos antitiroideus positivos) e os sintomas são habitualmente de instalação lenta (meses, anos), o que atrasa e dificulta o diagnóstico. Nestes casos, os níveis sanguíneos de hormonas tiroideias estão diminuídos (T3 e T4 livres) e a TSH encontra-se elevada.
Os sintomas principais são a astenia (cansaço marcado e progressivo), o aumento de peso, a sonolência, a pele seca e descamativa, voz mais grave, a obstipação e os edemas. Nos casos de aumento do colesterol ou da prolactina deve ser sempre avaliada a função tiroideia para despistar um eventual hipotiroidismo.
Doença nodular da tiroideia
A existência de nódulos da tiroideia é uma situação muito frequente, principalmente nas mulheres. A maior parte são de dimensões reduzidas (inferiores a 1 cm) recomendando-se apenas vigilância clínica.
Nas situações em que há nódulos maiores, ou que aumentaram rapidamente de dimensões, é indispensável a realização de biópsia, de preferência dirigida por ecografia, para despiste de lesões malignas que são, na maior parte das vezes, potencialmente controláveis. Apenas 5% dos nódulos da tiroideia são malignos.
Dr. J. Garcia e Costa,
NEDO-Núcleo de Endocrinologia Diabetes e Obesidade, Lda.
Dr. A. Galvão Teles,
NEDO-Núcleo de Endocrinologia Diabetes e Obesidade, Lda.
Fonte: Saúde em Revista