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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

BEM-ESTAR: É HORA DE DORMIR


Afinar o relógio biológico. Talvez esteja aqui o paradigma da insónia infantil. Quando temos a responsabilidade de colocar um bebé no Mundo, adormecê-lo é o primeiro grande desafio. Ora, o segredo da 'dolorosa' missão passa por contribuir para a tranquilidade, a segurança e o conforto do pequeno, em regime de 24 horas, sem que nos condenemos a escravos do seu quotidiano, nem que o tornemos refém da nossa vida.

A regra número 1 é esta: há sempre uma razão para o comportamento que o pequeno adopta.

A importância das rotinas
Não faltam 'profecias' sobre o que fazer para adormecer as crianças. Mas o que é que lhes tira o sono? "Qualquer um de nós tem um relógio biológico. A criança também o tem", responde Rui Vasconcelos.

O neuropediatra diz mesmo que "a maioria dos problemas do sono são da responsabilidade dos pais". Somos nós, adultos, "que muitas vezes inconscientemente, e por esta ou aquela razão, não acertamos os horários dos sonos, o que leva a que o relógio biológico da criança ande constantemente aos 'trambolhões'".

A verdade é que a nossa vida social, volátil e oscilante, acaba por interferir na organização, em permanente construção, na mente do bebé. As mudanças explicam, em parte, a gritaria quando chega à hora de dormir. Quer dizer que a birra do sono é um mito? Rui Vasconcelos resolve a questão assim: "o relógio biológico está completamente desafinado. A criança não tem culpa e muito provavelmente não tem sono."

Sesta, recomenda-se
Dormir é essencial para o crescimento e o equilíbrio emocional do bebé. "O tempo total de sono modifica-se progressivamente com o correr da vida. No recém-nascido o tempo dura em média 17 horas. Diminui progressivamente até atingir as 14 a 15 horas na 16.ª semana, assim permanecendo até ao 8.º mês, quando tende a uma queda gradual", observa Rui Vasconcelos.

A sesta acaba por ser um complemento. "O sono diurno é tão importante como o nocturno. E o sono é tão importante como a alimentação porque é reparador do organismo. É como um recarregar de pilhas. Por exemplo, uma criança de 3 anos precisa de 12 horas de sono. A maioria das crianças não o fazem à noite, portanto a sesta é o complemento das necessidades fisiológicas de sono (das 12 horas) que não são feitas à noite", explica o médico.

Embalar? Não!
Cá entre nós, partilham-se truques para pôr os bebés a dormir. O banho é um deles. Rui Vasconcelos concorda, mas o efeito relaxante e estimulante do sono só se torna eficaz se o banho tiver regras: se for dado sempre à mesma hora. Pode, aliás, ser um instrumento para "acertar os horários do relógio biológico".
Depois, há o pecado capital da maioria dos pais: embalar o bebé para que durma. Boa prática doutor? "Não. Nunca condicionem os vossos filhos ao adormecer a este ou aquele ritual", sentencia, o médico. "As crianças ficam condicionadas aos rituais e os pais frequentemente ficam 'escravos' da criança e rapidamente se esgotam por causa de uma atitude que nunca pensaram produzir tal incómodo e que o fizeram unicamente por amor."

Cama dos pais, só como último recurso
Pode ser uma bóia de salvação após sucessivas noites mal dormidas, mas até que ponto a estratégia da rendição é contraproducente? "Adormecer com o filho entre os pais é um dos condicionamentos mais escravizantes para os pais. Nunca o faça porque estará a prejudicar o seu descanso, quer pelo medo de magoar a criança, quer em consequência do sono irrequieto que é característicos dos mais pequenos.

Os mimos 'fazem parte'
"Há rituais instituídos e condicionamentos educados". Por isso, de nada vale deixar o nosso bebé chorar até adormecer, enquanto roemos as unhas atrás da porta. Todavia, a disciplina não pode ser confundida com a inflexibilidade, a rigidez e a severidade. O bebé precisa de muita atenção e os mimos nunca são demais. "Fazer mimos é instintivo a qualquer ser humano. Se nós gostamos, o bebé logicamente que adorará. Se os outros animais fazem aos filhos (macacos, cães, ursos, etc) é sinal que é uma atitude 100% fisiológica", observa Rui Vasconcelos.

Pesadelos?
Não é comum os bebés, sobretudo recém-nascidos terem pesadelos, pelo que os distúrbios do sono terão outra origem: cólicas, calor ou frio, fralda suja, entre outras. "Será que bruxas, monstros e papões põem o bebé em sentido? Com o bebé isso passa ao lado. Mais para a frente, sim. Os medos são psicológicos e é preciso respeitar o medo das crianças."

Dormir só
A auto-confiança, a auto-estima e a autonomia do bebé constroem-se desde o berço. Como? Dormindo sozinho. Manter o bebé sob a asa dos pais durante muito tempo acaba por diminuí-lo na capacidade individual de enfrentar os medos, as fobias e de ultrapassar os obstáculos sozinhos. Como tal, o bebé deve mudar para o seu próprio quarto a partir do momento em que for capaz de dormir à noite sem acordar. Após os 4 meses, estabelece Rui Vasconcelos. "O dormir no seu próprio quarto é mais tranquilo e é importante para estabelecer o seu ritmo de sono."

Existe um quarto ideal?
O neuropediatra sugere um quarto iluminado naturalmente, soalheiro, bem arejado e, preferencialmente, de cores claras. O material do chão não deve ser escorregadio, nem demasiado duro ou frio. Carpete não é recomendada. A temperatura deve ser acautelada e "o mais eficaz e seguro é o aquecimento central". A iluminação pode também ser regulada através de um interruptor de intensidade gradual ou através de uma luz fraca que permita acompanhar o sono do bebé sem incomodá-lo.
O mobiliário deve ser o mais leve possível e o mínimo necessário. Ao gosto dos pais, é certo, mas não deve descurar o conforto e a segurança do bebé. Os peluches merecem um especial reparo. "Não encher o quarto de bonecos, estes são um rico refúgio para os ácaros", conclui Rui Vasconcelos.