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quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Dois terços das crianças com Rinite alérgica por tratar

Um estudo pioneiro feito em Portugal revela que dois terços das crianças dos três aos cinco anos que sofrem de rinite alérgica estão por diagnosticar e consequentemente por tratar
Segundo um dos autores, o presidente da
Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica + (SPAIC + ), Mário Morais de Almeida, o estudo ARPA KIDS revelou que 21,5 por cento das crianças em idade pré-escolar apresentava Queixas + de rinite no último ano, mas destas apenas 35,8 por cento estão diagnosticadas e 36,5 por cento medicadas.
Foi ainda detectado que 79 por cento das crianças sofria de formas intermitentes da doença e 21 por cento de casos persistentes, ou seja com sintomas nasais em mais de quatro dias por semana ou mais de quatro semanas por ano.
Não se encontraram grandes diferenças entre rapazes e raparigas, ao contrário do que acontece entre as populações adolescente e adulta, nas quais a prevalência é superior entre as mulheres.
«Habitualmente aponta-se a infância como o período de início das
Alergia + s, mas ainda não existia uma medição e foi o que quisemos fazer. Esta é uma doença transversal a todos os grupos etários, mas quanto mais cedo se trata o problema, mais se evitam infecções graves e doenças relacionadas como a Asma + », sublinhou o especialista à agência Lusa.
A falta de diagnóstico deve-se muitas vezes à desvalorização dos sintomas pelos próprios doentes.
«As pessoas parecem não achar estranho que as suas constipações existam no Inverno e continuem na Primavera e Verão. Há uma falta de reconhecimento e, quando se queixam ao seu médico assistente de sintomas como infecções, febres, dores de cabeça ou nariz constantemente congestionado, acaba por se apagar um incêndio, mas não se resolve um problema muito mais grave», alertou.
Da experiência, Mário Morais de Almeida refere que as crianças na sua linguagem costumam pedir ajuda e desejam resolver os problemas relacionados com a rinite.
«Eles queixam-se do nariz sempre a pingar, da comichão nos olhos, da tosse inquietante que dificulta o sono e acabam por fazer pressão sobre os pais para serem encontradas soluções», referiu.
O especialista sublinhou que as crianças com rinite apresentam maior prevalência de outros problemas como asma, alergias alimentares e a medicamentos.
O inquérito revelou, por exemplo, que 25 por cento das crianças com rinite sofreu um episódio de falta de ar ao nível dos brônquios no último ano e 10 por cento de quatro crises.
A doença pode ter antecedentes familiares, mas o presidente da SPAIC sublinha que mesmo esses pais podem não reconhecer os mesmos sintomas da patologia nos seus filhos e não associam as dificuldades em dormir e o facto de as crianças acordarem cansadas ou ressonarem à patologia crónica.
Como esperado, a maior prevalência da doença encontra-se nas zonas urbanas e em especial na região de Lisboa e Vale do Tejo (40 por cento), enquanto abaixo das médias nacionais está a zona do Alentejo (08 por cento), embora apresente as queixas mais persistentes.
«Há uma menor percentagem no Alentejo, mas maior gravidade», sublinhou o responsável, indicando que há 76,9 por cento de situações persistentes, das quais 48 por cento são moderadas ou graves.
Apesar da necessidade de sub-estudos nesta região para melhor compreender a situação, o especialista avança que a menor percentagem de casos pode dever-se ao facto de se tratar de uma zona ainda predominantemente rural e que as queixas persistentes podem dever-se a uma exposição marcada a pólen. Os maiores valores de rinite intermitentemente ligeira encontraram-se no Algarve (82,4).
Para Mário Morais de Almeida, tratar bem a rinite pode prevenir outras doenças, assim como evitar custos directos e indirectos, que se prendem com as terapêuticas, faltas nos infantários, com custos de aprendizagem e abstencionismo dos pais a nível laboral.
Em conclusão, o estudo confirma que a rinite "é também no grupo etário pré-escolar uma doença frequente, com potencial gravidade, sub diagnosticada e sub tratada, não recebendo cuidados médicos num número significativo de casos".
«Revela-se assim importante uma actuação proactiva, alertando a comunidade médica e a sociedade em geral, de modo a reconhecer e a controlar precocemente as patologias alérgicas, fonte de significativo impacto pessoal e social», lê-se no estudo.
A rinite é uma doença inflamatória da mucosa nasal. Nos Estados Unidos e na maioria dos países da
União Europeia + é a doença alérgica crónica mais prevalente, atingindo até 40 por cento de crianças e 20 a 30 por cento de adultos.
Em Portugal, estudos anteriores revelavam mais de 25 por cento quer na população pediátrica, quer na adulta com queixas de rinite.
Fonte: Lusa/SOL