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terça-feira, 23 de outubro de 2007

Parkinson: Cirurgia pioneira devolveu vida a 50 pacientes

Um tratamento cirúrgico pioneiro em doentes com Parkinson, iniciado em 22 Outubro de 2002 pelo Hospital de São João, Porto, tem dado «excelentes resultados», afirmou hoje o director do Serviço de Neurocirurgia daquela unidade de saúde.
A operação - um pequeno implante no cérebro - oferece a possibilidade aos doentes, a quem a medicação já não ajuda, de recuperar uma vida normal.
Em declarações à agência Lusa, Rui Vaz, médico que dirige a equipa do S. João e trouxe esta cirurgia para Portugal, disse que em cinco anos, «este hospital operou 75 doentes de Parkinson, com uma taxa média de melhoria funcional de 70 por cento».
São pessoas que, entretanto, voltaram a conseguir fazer coisas tão simples como pegar num copo, ir sem ajuda à casa de banho ou virar-se na cama.
O Hospital de S. João foi a primeira unidade hospitalar em Portugal a realizar este tratamento cirúrgico sendo actualmente considerado um dos 16 centros europeus de referência.
Internacionalmente, considera-se que um centro de referência tem de apresentar valores médios de melhoria funcional entre os 65 e os 75 por cento.
«O S. João realiza cerca do dobro das cirurgias dos restantes hospitais portugueses que actualmente desenvolvem este tratamento», disse Rui Vaz, considerando que a experiência acumulada é fundamental para o sucesso da cirurgia.
No total, estima-se que em Portugal existam cerca de 25 mil doentes de Parkinson, mas só um grupo, entre cinco e dez por cento, reúne os requisitos para a cirurgia.
A doença de Parkinson é uma doença crónica que afecta o sistema motor, com efeitos nos movimentos corporais, levando a tremores, rigidez, instabilidade postural e alterações da marcha.
A técnica cirúrgica consiste na implantação, no cérebro, de um eléctrodo que vai estimular um núcleo cerebral pré-seleccionado com o objectivo de controlar os sintomas resultantes da doença de Parkinson.
A operação é feita com o doente acordado, com anestesia local, uma vez que a equipa médica tem que controlar o efeito sobre os sintomas.
«É fundamental também que os doentes não estejam ainda demenciados, sendo essencial a sua colaboração durante a operação e no período pós-operatório», disse o neurocirurgião.
«É um investimento muito grande num só doente - cada cirurgia custa mais de 25 mil euros - mas a mudança radical que provoca na vida das pessoas compensa o investimento», sublinhou o especialista, destacando o apoio que a administração do hospital sempre dispensou a este projecto.
Rui Vaz sustentou que, «além da qualidade de vida que se alcança, de uma semana para a outra, e que não tem preço para o doente e para a sua família, o investimento é recuperado em três ou quatro anos na poupança de medicamentos».
«Em média, segundo estudos internacionais, um doente submetido à cirurgia reduz a medicação em 40 a 60 por cento», disse o clínico, referindo casos em que a medicação deixa de ser necessária.
Em 2006, foram realizadas no Hospital de S. João 18 cirurgias, estimando-se que este ano se possam concretizar 22 e, em 2008, o número aumente até às 26 cirurgias.
Actualmente, mais três hospitais portugueses (os
HUC + de Coimbra, o Santo António, do Porto e o Santa Maria de Lisboa), fazem este tipo de operações.
Rui Vaz defende que esta cirurgia esteja concentrada em centros de referência nacional para evitar a sua «vulgarização» porque «a experiência é fundamental».
«Quantos mais centros, menor a experiência e quando a experiência é menor, os resultados são piores», frisou o neurocirurgião, considerando que o número de centros existentes em Portugal é «suficiente».
Para tratamento cirúrgico são seleccionados doentes com menos de 70 anos, com mais de cinco anos da doença, e os casos em que o efeito da medicação já é reduzido ou com efeitos colaterais graves.
O médico realçou, contudo, que se trata de um tratamento e não da cura da doença.
«Controlam-se os sintomas, mas a evolução degenerativa das células continua a dar-se», acrescentou.
O efeito deste tratamento mantém-se pelo menos durante 15 anos, disse o especialista, referindo que este é «o tempo cientificamente provado».
«Pode até ser muito mais, mas como a primeira cirurgia, a nível mundial, foi realizada há apenas cerca de 15 anos, no início dos anos 90, em França, não podemos, por isso, dar mais garantias», frisou.
No Hospital de S. João, a lista de espera para este tratamento cirúrgico é de cerca de um ano, com um total de cerca de 25 doentes em espera.
Embora não existam dados precisos, o director de Neurocirurgia do hospital de S. João estimou que todos os anos surjam em Portugal 50 a 100 novos casos de Parkinson.
Diário Digital / Lusa