
Apesar das vantagens da vacinação, a realidade mostra que o vírus da gripe ceifa vidas todos os anos. Em Portugal morrem por ano, em média, entre 1500 a 2000 pessoas devido à gripe ou às suas complicações, segundo dados da Direcção-Geral da Saúde.
Em 2005 faleceram 520 espanhóis devido ao vírus e foram precisamente mais vítimas do grupo da população supostamente protegida pela vacina.
Porquê?
Porque a profilaxia, ainda que eficaz, é menos do que o previsto no caso dos adultos.
As campanhas de vacinação antigripal sustentam-se em estudos que afirmam que esta medida é capaz de reduzir em 50 por cento, ou mais, a mortalidade da população adulta nos meses de Inverno. Todavia, outras pesquisas indicam que ao vírus só se pode atribuir cinco por cento das mortes ocorridas no grupo etário nesse período.
Graça Freitas, subdirectora-geral da Saúde, diz que estes dados, contraditórios, são bem conhecidos. “A vacina não é tão efectiva nos idosos devido à idade e à debilidade do sistema imunitário. No entanto, continua a prevenir muitos Internamentos + e mortes.”Como é que a imunoprofilaxia previne dez vezes mais mortes do que as directamente causadas pela doença? O paradoxo tem origem no debate sobre a eficácia real da vacina antigripal a partir dos 65 anos, período em que a infecção respiratória causa mais estragos e mais se recomenda a imunização. A questão que se coloca é saber se terá havido um exagero nos benefícios para os idosos. A dúvida perturba a comunidade científica, o que foi reforçado pelos autores de um recente artigo publicado na revista ‘The Lancet Infectious Diseases’. Segundo afirmam, a investigação demonstrou de forma credível que a vacina reduz as complicações associadas à gripe nos menores e jovens adultos, mas não existem estudos rigorosos que permitam afirmar o mesmo na idade avançada.José Bayas, presidente da Associação Espanhola de Vacinação, defende a ideia e considera “excessivas” as expectativas: “Exige-se um nível de eficácia e perfeição quase infinito. Se não é eficaz em 99 por cento dos casos é má, mas não temos esse nível de exigência com outros medicamentos. Ainda que a protecção seja mais baixa, é positiva.”Um novo trabalho supera esta limitação. Os investigadores estudaram em dez anos 700 mil norte-americanos com mais de 65 anos. Comparou-se a frequência de internamentos e mortes por gripe entre os que se vacinavam e não. O resultado foi favorável à prevenção, com uma redução de 27 por cento dos internados por gripe e Pneumonia + e de 48 por cento do risco de morte.
500 MIL MORREM POR ANO
A nível mundial, estima-se que a gripe sazonal esteja associada, anualmente, à morte de 250 mil a 500 mil pessoas. Em Portugal, as estimativas da Direcção-Geral da Saúde apontam para um número médio de 1773 óbitos por época gripal, entre os anos de 1990 e 1998. A mortalidade anual causada por gripe e por causas que podem estar associadas a complicações da gripe (pneumonias) variou entre os 3822 óbitos (em 2003) e os 5186 óbitos (verificados em 1999), segundo os dados disponíveis. Entre os anos 1999 a 2003 os óbitos por gripe e por causas associadas às suas complicações disseram respeito, principalmente, a pessoas com mais de 65 anos, tendo maior expressão entre os indivíduos do grupo etário acima dos 75 anos. Aos meses a que corresponde cada época gripal está também associado o aumento da mortalidade devido a complicações da gripe.
MENOS DE METADE NO MÉDICO
As epidemias de gripe sazonal estão associadas a uma grande procura pelos serviços de saúde, em especial dos serviços de urgência. Contudo, nem todos procuram um médico quando têm sintomas gripais. Segundo a Direcção-Geral da Saúde (DGS), apenas 43 por cento dos portugueses recorre a uma unidade de saúde (Centro de saúde + ou hospital). De acordo com dados do Plano de Contingência Nacional da DGS, a procura máxima das Urgências + coincidiu com a maior actividade da gripe, com um registo de 16 mil a 18 mil consultas em Janeiro e em Novembro de 2005.
TRÊS PERGUNTAS FREQUENTES ACERCA DA GRIPE SAZONAL
Quando é que um infectado pode contagiar outros?
O período de contágio começa um a dois dias antes do início dos sintomas e vai até sete dias depois. Em crianças é maior.
A gripe e a constipação são a mesma doença?
Não. Os vírus são diferentes. Ao contrário da gripe, os sintomas da constipação são limitados às vias respiratórias superiores.
Que tipos de pessoas deve receber a vacina da gripe?
Quem tem risco de sofrer complicações: a partir dos 65 anos, diabéticos, doentes crónicos de pulmões, coração, rins e Fígado + .
Cristina Serra
Cristina Serra
Fonte: Correio da manhã