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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

DERMATITE ATÓPICA

Dr. Carlos Resende


Nos Estados Unidos e na Europa a incidência varia de 10 a 20%. Nos últimos anos tem aumentado em paralelo com os designados índices de bem-estar social, como se verifica nos países do leste Europeu com desenvolvimento recente.





A etiologia é desconhecida mas há dados que suportam o papel do passado genético e a influência dos factores ambientais. Alterações imunológicas são evidenciadas pela elevação frequente da Ig E no soro, ocorrência de eosinofilia, predomínio de linfócitos Th2 nas lesões agudas e linfócitos T produtores de interferão Y nas lesões crónicas.



O diagnóstico da dermatite atópica depende quase completamente da história clínica e do exame físico. Há 3 estádios clínicos de doença - 0 a 2 anos, 2 a 12 anos e mais de 12 anos, cada um dos quais com padrões cutâneos agudo, sub-agudo e crónico. As lesões agudas do eczema atópico são pápulas eritematosas intensamente pruriginosas, finas placas escoriadas, vesículas e crostas serosas.




As lesões sub-agudas aparecem como pápulas eritematosas com descamação e escoriações secundárias.




As lesões crónicas caracterizam-se por placas espessas com liquenificação secundária ao prurido.




Nos mais pequenos as lesões podem ocorrer em qualquer local mas surgem preferencialmente na face, couro cabeludo e superfícies extensoras dos membros. Nas crianças dos 2 aos 12 anos as lesões tendem a ser menos agudas, mais acantonadas às pregas dos sangradouros, fossas popliteas, face dorsal do pescoço e das mãos. Como complicações do eczema atópico surgem infecções cutâneas pelo S.aureus e por vírus causadores de verrugas vulgares e de moluscos contagiosos.




O eczema atópico influencia o comportamento social destas crianças, o seu rendimento escolar assim como toda a vida de relação familiar.




No controlo e tratamento do eczema atópico há a referir um conjunto de medidas gerais assim como tratamentos tópicos e sistémicos.




O aleitamento materno, pelo menos nos 3 primeiros meses de vida, parece ser benéfico. A introdução mais tardia e progressiva dos diversos alimentos sólidos é recomendada. O uso do vestuário em algodão, a evicção de objectos de lã em casa, bem como o convívio íntimo com gatos (o mesmo não esta provado para os cães) diminuem as crises. O banho diário com produtos pouco agressivos, seguido da aplicação de emoliente é favorável.




Mas as medidas farmacológicas impõem-se. Os corticosteroides tópicos continuam a ser os fármacos de 1ª linha. Nos mais jovens, na face e nas pregas devem aplicar-se corticoides de muita baixa potência e por períodos curtos. Já nas restantes lesões do corpo é preferível utilizar corticoides mais potentes e durante menos tempo. O abuso da utilização de corticoides tópicos provoca efeitos secundários locais e sistémicos. A corticofobia por parte de outros, dificulta igualmente um adequado tratamento.



Novos fármacos imunomoduladores tópicos derivados dos inibidores da calcineurina (Tacrolimus e Pimecrolimus) demonstraram ser eficazes no tratamento das lesões de eczema atópico. Não tendo os inconvenientes dos corticoides, proporcionam um tratamento pró activo ou seja tratam e previnem novas crises.




Contudo, notícias recentes alertaram a opinião pública para o perigo do desenvolvimento de neoplasias cutâneas e mesmo de linfomas associados à sua utilização e levaram a FDA (Food and Drug Admimistration) e a EMEA (European Medicines Agency) a efectuar estudos de segurança retrospectivos.




Estas entidades publicaram no 1º trimestre de 2006 os resultados destes estudos e concluíram não haver evidência de aumento de neoplastias associadas ao uso destes fármacos, nem imunossupressão sistémica. Mais afirmaram que o benefício da sua utilização suplanta em muito os riscos, mas estes fármacos só devem ser prescritos por médicos experientes, bem informados e em crianças com mais de 2 anos de idade.




As formas mais graves da dermatite atópica exigem medicação sistémica como anti-histamínicos, antibióticos, cortícoides e imunossupressores. A fototerapia e a helioterapia poderão igualmente ser recomendadas.




A enorme perturbação que a dermatite atópica causa nos índices de qualidade de vida dos pacientes e seus familiares, obriga-nos a facultar apoio psicológico e a recorrer a todos os meios seguros e eficazes para o seu controlo.








A dermatite atópica é uma doença crónica, recorrente, inflamatória, que surge normalmente nos primeiros anos de vida (70 a 95% antes dos 5 anos), mas raramente nos 2 primeiros meses.








Dr. Carlos Resende,
Vice-presidente da Sociedade Portuguesa
de Dermatologia Venereologia


Fonte: Saúde em Revista