Quando se fala em queimaduras o mais certo é pensar-se automaticamente em calor. E em pele. Mas o calor não é a principal causa de queimaduras e a pele não é o único órgão afectado. É que também a electricidade e substâncias químicas podem ser responsáveis por lesões dos tecidos, quer externos, quer internos.
A ingestão de um líquido muito quente ou de um produto de limpeza, por exemplo, pode causar queimaduras ao longo do sistema digestivo, nomeadamente no esófago e no estômago. E a inalação de fumos tóxicos, provenientes por exemplo de um incêndio, pode afectar os brônquios e os pulmões. Já a corrente eléctrica - causa dos chamados "choques" - deixa sobretudo marcas na pele e nos tecidos subcutâneos.
Certo é que as queimaduras são muito frequentes, acontecendo, muitas vezes, no ambiente doméstico - a água do banho demasiado quente, um recipiente com água a ferver que se entorna, fagulhas que se soltam da lareira, o ferro eléctrico que se esquece ligado, a porta do forno que não isola bem o calor, os alimentos (sobre)aquecidos no micro-ondas, um dedo de criança que toca numa tomada eléctrica desprotegida...
Os exemplos multiplicam-se no quotidiano: o risco existe sempre e os acidentes acontecem. Todavia, as queimaduras daí resultantes não são necessariamente graves. E a gravidade mede-se pelos sintomas e pela extensão e profundidade da lesão, sendo as queimaduras classificadas em três graus: nas de primeiro grau, a pele fica vermelha e dorida, muito sensível ao tacto e húmida ou inchada; a área queimada torna-se branca quando tocada mas não se formam bolhas.
São as menos graves, que se curam em cinco a sete dias. Quanto às de segundo grau, causam uma lesão mais profunda, formando-se bolhas com uma base avermelhada ou branca e contendo um líquido claro e espesso; a pele dói e é sensível ao tacto. Cura-se, por norma, em duas a três semanas. As mais graves são as de terceiro grau, podendo a superfície da queimadura ser branca e macia ou negra e calcinada. Formamse bolhas e a área queimada perde a sensibilidade ao tacto, pois as terminações nervosas foram destruídas.
Felizmente, a maioria das queimaduras que ocorrem no ambiente doméstico são superficiais - de primeiro grau ou de segundo grau ligeiro. Significa isto que podem ser tratadas com recurso aos primeiros socorros, conjunto de cuidados que se prestam de imediato no local do acidente e que envolvem, antes de mais, a limpeza da ferida.
E quando se trata de uma queimadura superficial o primeiro gesto é lavá-la: passar por água fria (não gelada e nunca usar gelo) durante cerca de 5 a 15 minutos. Tem como objectivo diminuir o calor na pele lesada e assim diminuir dor e edema.
Deve usar luvas, de modo a evitar o contacto directo com a pele ferida, e deve utilizar-se cada compressa uma única vez - deste modo previne-se o desenvolvimento de infecções, já que a pele queimada é uma pele exposta e vulnerável.
Deve secar a ferida, com a ajuda de compressas.
Pode ser aplicado um creme de aloé vera. A colocação de um penso é o último dos cuidados, tendo como objectivo manter a ferida limpa e longe de potenciais agentes infecciosos. Sendo ligeira deve ser deixada ao ar e limpa.
Estes são os primeiros socorros indicados em caso de queimaduras superficiais. Todavia, quando alesão é interna é conveniente uma ida a um serviço de saúde. O mesmo acontece quando envolve uma criança com menos de dois anos ou um idoso - são grupos vulneráveis que podem necessitar de cuidados específicos.
Ainda assim o melhor é sempre prevenir, o que em casa passa por alguns gestos básicos como proteger as tomadas eléctricas, desligar o ferro sempre que não se usa, manter os produtos químicos num armário fechado e inacessível para as crianças, medir a temperatura da água do banho e dos alimentos aquecidos (sobretudo quando se destinam aos mais pequenos), usar os bicos do fogão mais próximos da parede, proteger as lareiras.
Primeiros socorros na farmácia
Dada a sua acessibilidade e distribuição geográfica - há sempre uma farmácia de serviço onde quer que se encontre - as farmácias são espaços de saúde que podem contribuir para a avaliação de situações de emergência, incluindo a prestação das medidas iniciais de primeiros socorros e o correcto encaminhamento dos doentes.
A intervenção na farmácia pode ser feita por qualquer elemento da equipa desde que tenha recebido formação para o efeito ou por um enfermeiro. E essa intervenção tanto pode envolver uma vertente prática, de socorro em caso de emergência ou de aplicação de pensos e ligaduras numa situação de lesão, como ter uma vertente mais didáctica, de informação dos utentes e da população em geral sobre os sinais de emergência médica.
Este é mais um serviço que as farmácias portuguesas prestam à população, cumprindo aquele queé um dos seus princípios basilares - os cidadãos no centro dos cuidados. Informe-se junto da sua farmácia para saber se este serviço está disponível.
Fonte: FARMÁCIA SAÚDE - ANF